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Vime está entrelaçado com Ana Rech

A trama do vime está entrelaçada na história de Ana Rech até os dias de hoje. Usado para amarrar os parreirais, o uso do vime desembarcou aqui junto com os imigrantes italianos, se espalhou pelas videiras e chegou a muitos outros produtos. Um arbusto que precisa de muita água, é plantado em banhados, brota na primavera e é cortado no inverno, normalmente com entre quatro e cinco metros de altura. Com esse grande comprimento e muita flexibilidade, pode ser usado de diversas formas, incluindo os balaios tão conhecidos na Serra Gaúcha.

Em Caxias do Sul, há relatos de que Menegheto Rech Camel, que chegou em 1884, foi o primeiro a confeccioná-los. Um dos desafios sempre foi descascar, e surgiram alguns instrumentos que ajudavam nisso. Porém, mesmo com algumas mudanças pontuais, como o cozimento do arbusto antes de ser descascado, a tradição pouco foi alterada e, até os dias de hoje, existem artigos em vime feitos da forma tradicional em Ana Rech.

Meados anos 60 vime descascadas para secar. Fonte Livro História Povo de Ana Rech

Na década de 1940, Albino Saccaro interessou-se por essa trama e aproximou-se do tio, João De Martini, que possuía uma fábrica de vimes em Carlos Barbosa. Depois de alguns meses aprendendo, uniu-se ao irmão, Angelo, e, em 1947, fundou em Ana Rech uma fábrica chamada Irmãos Saccaro Ltda. Eles produziam balaios, cestos, berços, bolsas e outros itens. Conforme relatos, Albino enxergava longe e importou da Alemanha uma máquina que beneficiava a matéria-prima. A sociedade seguiu até 1956, quando os irmãos se separaram e Albino fundou uma nova empresa, com o seu nome. Além dos produtos que já fazia antes, passou a empalhar garrafões.

Já em 1970, ao lado do filho Jorge, que havia emancipado, fundou a Indústria de Vimes Pioneira Ltda. A partir dessa etapa, começou a produzir móveis de vime que chegaram a ser vendidos em São Paulo e outros Estados brasileiros, levando para longe o nome de Ana Rech. Na década seguinte, instalada em outro endereço, passou a ter uma área para exposição de produtos e foi seguindo a sua trajetória. Está em atividade até hoje, agora com o nome de Saccaro Móveis, uma empresa reconhecida em todo o país pela qualidade dos produtos que entrega.

Paralelamente a essa história, se desenvolvia também a empresa de Angelo, que passou a levar seu nome e transferiu a lida com o vime para as gerações seguintes. O seu filho, Arlindo Antonio Saccaro, aprendeu tudo com o pai e, em 1968, fundou em Ana Rech a Vimes Saccaro, que segue em funcionamento até hoje, mantendo a produção 90% manual. 

  

Arlindo Antonio Saccaro e Rosalina Boss Saccaro trabalho artesanal em vime. Foto acervo Vimes Saccaro

Em 2024, Rosângela Saccaro Soares, integrante da terceira geração, segue com o negócio e faz questão de usar a fibra natural. Segundo ela, o sintético entrou muito forte nesse mercado, mas elas mantêm a matéria-prima que conta não apenas a história da sua família, mas também a relação de Ana Rech com o vime. A produção é principalmente sob encomenda, mas há alguns itens a pronta-entrega. O mix inclui cestas básicas e de piquenique, bandejas, cavalinho e berço para crianças, entre outros itens. Cestos de roupas podem ser feitos sob medida, assim como gavetas e outros produtos relacionados ao mercado da arquitetura.

Artigos em vime, produção artesanal. Foto acervo Vime Saccaro

Os produtos oferecidos pela Vimes Saccaro materializam um legado que passou por diversas etapas e lugares de Ana Rech. Há registros de que o arbusto chegou a ser plantado pelo Colégio Murialdo em um antigo banhado dos Frades Camaldulenses e, no começo da sua história, era usado tanto para amarrar os parreirais, quanto para tramar os cestos onde a uva era carregada, ou seja, a relação com a vitivinicultura, uma das principais atividades dos imigrantes, era muito forte. Saber que essa tradição segue viva até o ano de 2024, às vésperas de se completar 150 anos da imigração italiana, é possibilitar que as novas gerações vejam a história não apenas em livros, mas também nas mãos de quem segue a tramando.

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fonte: Livros Povo de Ana Rech Edição I e II. Depoimento Valter Suzin e Rosangela Saccaro.