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Os Povos Jê e a Vegetação de fundo nos sítios arqueológicos

Figura1. A geada cobrindo o campo numa manhã de inverno. Foto de Rafael Corteletti

As análises de fitólitos recuperados nas escavações das casas subterrâneas em Urubici, SC, revelaram quea amostra de espécies arbóreas identificadas não é muito ampla, composta basicamente por poucos exemplares de Arecaceae sp., da família das palmeiras. Tais dados indicam que talvez a área imediatamente circundante as aldeias de casas subterrâneas fossem mantidas sem floresta, ou seja, o assentamento estaria numa clareira na mata (Corteletti 2012). É interessante imaginar que, diferentemente do que se supunha (conforme Corteletti 2008:155-157), as aldeias de casas subterrâneas dos povos Jê do sul podem estar, a exemplo das aldeias dos Jê Centrais, em áreas de clareira e não no interior da mata de araucária. Ambrosetti (1895:307) informa que a aldeia do cacique Fracãn tinha como morada fixa uma pequena clareira ou descampado (campina, abra ou descampado) na selva missioneira, e acrescenta que elas eram muito importantes por não serem abundantes. Souza (1918:740) fala em aldeias Kaingang do sertão paulista em clareiras no interior da densa mata. Um contraponto etnográfico é encontrado em Mabilde ([1897] 1988:144), que informa que aldeias Kaingang estão “sempre ao meio dos pinheirais” no Rio Grande do Sul. De qualquer maneira, o conforto térmico encontrado fora da mata no período de inverno, onde há maior insolação e menor taxa de umidade, poderia ser um motivo prático para a construção das aldeias em clareiras e justificaria a baixa ocorrência de espécies arbóreas em relação às gramíneas nas amostras de fitólitos.

Não à toa o primeiro plano urbano de Caxias do Sul, de 1878, foi chamado de “Projeto da povoação da Colônia Caxias no Campo dos Bugres”, uma associação direta as aldeias indigenas instaladas em áreas abertas e do emaranhamento da história desse lugar com os povos nativos. A colônia, hoje cidade, foi erguida sobre antiga aldeia indígena e não há como negligenciar essa história (Dorneles, 2011).

Figura 2. Paisagem da região de Vila Oliva, com mosaico de campos e floresta de araucária. Foto de Rafael Corteletti

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto produzido por: Rafael Corteletti Mestre em História e Doutor em Arqueologia

Revisão Texto: Paula Valduga

Referências

Ambrosetti, J.B. (1895). Los indiosKaingángues de San Pedro (Misiones), conunvocabulario. Buenos Aires: Revista del Jardin Zoológico de Buenos Aires, tomo II, ent. 10, p. 305-387. Disponível em http://www.etnolinguistica.org/biblio:ambrosetti-1895-kaingangues

Corteletti, Rafael. (2008). Patrimônio Arqueológico de Caxias do Sul. Ed. Nova Prova, Porto Alegre, 200p. Disponível em http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.1.4097.5129

Corteletti, Rafael. (2012). Projeto Arqueológico Alto Canoas- PARACA: Um estudo da Presença Jê no Planalto Catarinense. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo. 323p. Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-19042013-093054/pt-br.php

Dornelles, Soraia S. (2011). De Coroados a Kaingang: as experiências vividas pelos indigenas no contexto de imigração alemã e italiana no Rio Grande do Sul do século XIX e início do XX. Dissertação de Mestrado. UFRGS. 134p. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/66294/000868518.pdf?sequence=1

Mabilde, A.P.T. [1897] (1988). O índio Kaingang no Século XIX. Arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Documentos 2:141-172. IAP – UNISINOS. Disponível em https://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/documentos/d/documentos02.pdf

Souza, G.P. (1918). Notas sobre uma visita a acampamentos de índios caingang. Revista do Museu Paulista. Tomo X. 1918. p 739-767. Disponível em https://etnolinguistica.wdfiles.com/local--files/biblio%3Asouza-1918-caingangs/souza_1918_caingangs.pdf