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Curta história da Fotografia em Caxias do Sul

Caxias do Sul possui uma história muito significativa ligada à fotografia. Entre as décadas de 1880 e 1890, foram produzidas as primeiras imagens da região, que se encontram reunidas em um álbum fotográfico intitulado “Recordação das Colônias Conde D’Eu, Dona Isabel, Alfredo Chaves, Antônio Prado e Caxias”. As localidades então registradas diziam respeito às cinco colônias criadas pelo governo imperial brasileiro para receber os imigrantes europeus no Rio Grande do Sul. À medida que essas colônias cresciam em população, com a chegada de novos imigrantes, e se desenvolviam economicamente, surgiam novos serviços e estabelecimentos comerciais. Foi nesse contexto que se instalaram pelas sedes das vilas os primeiros fotógrafos e seus ateliês de fotografia.

Moradores na Praça Dante Alighieri, em frente à antiga Igreja Matriz Santa Teresa. Local: Colônia Caxias, atual município de Caxias do Sul. Data atribuída: entre 1895 e 1897. Autoria desconhecida. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Muitos dos primeiros fotógrafos estabelecidos na região eram imigrantes italianos, que traziam em sua bagagem conhecimentos sobre a técnica fotográfica ou que aqui aprenderam o ofício. Podem ser citados como exemplos de fotógrafos imigrantes instalados na região entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20: Giovanni Battista Serafini, Francisco Muscani, Umberto Zanella, Domingos Mancuso, Primo Postali, Giacomo Geremia. Outros, como Julio Calegari, eram a primeira geração de descendentes de famílias de imigrantes no Brasil.

A atuação dos primeiros fotógrafos e seus ateliês tinha características semelhantes: a grande maioria dos estabelecimentos estava localizado na área central da sede do município de Caxias, o que evidencia a existência de um mercado consumidor urbano. Ao mesmo tempo, muitos profissionais atuavam como itinerantes, carregando consigo a câmera, o tripé, as chapas fotográficas emulsionadas e os fundos cênicos para fazer fotografias pelo interior. Outra característica é que muitos fotógrafos contavam com a participação das mulheres (esposas) nos ateliês, elas responsáveis pelos trabalhos de revelação e de retoque nas imagens.

Interior do Atelier Calegari (sem data). Autoria: Julio Calegari. Quando Julio faleceu, em 1938, o ateliê foi continuado pela esposa, Anita Calegari. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

A principal clientela dos primeiros estabelecimentos era constituída por comerciantes e industrialistas, que encomendavam os serviços dos fotógrafos para o registro de seus empreendimentos e da sua condição social, por meio do retrato individual ou familiar. Além disso, a municipalidade se serviu da fotografia para o registro das obras públicas e da cidade em geral, com a finalidade de divulgar suas ações e uma imagem de “progresso” do município. Nas comunidades rurais, os retratos de família, de casamento, e os registros de celebrações religiosas eram as principais oportunidades de trabalho para os profissionais itinerantes.

Operários da Ourivesaria e Funilaria Central de Abramo Eberle, quando foram iniciados os trabalhos em metalurgia. Autoria: Umberto Zanella. Data: 1906. O proprietário desta fábrica encomendou milhares de fotografias ao longo de décadas para retratar seu empreendimento. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Com a popularização da fotografia, o que ocorreu principalmente após a Segunda Guerra Mundial, na passagem da década de 1940 para 1950, a produção e a importação de câmeras e materiais fotográficos se tornou maior, e novos estabelecimentos surgiram na cidade. Também foi um período de renovação dos fotógrafos, muitos dos quais eram aprendizes dos ateliês iniciais ou filhos dos primeiros profissionais. Podem ser citados como exemplos: Antonio Beux, Ary Cavalcanti, Ary Pastori, Basílio Scalco, Clemente Tomazoni, Hildo Boff, Mauro De Blanco, Remo Mancuso, Remy Bisol, Ulisses Geremia. Todos montaram seus próprios estúdios de fotografia ou deram continuidade ao de seus pais, perdurando por décadas. O mais longevo de todos foi o Studio Geremia, iniciado por Giacomo e continuado pelo filho Ulisses, e que durou por quase 90 anos (de 1911 a 1998).

Na história da fotografia na cidade também é relevante citar o surgimento da imprensa e da assessoria de comunicação como novos campos de atuação para os fotógrafos. Nos anos de 1980 e 1990, destaca-se o trabalho dos fotógrafos da prefeitura municipal Antônio Carlos Galvão e Mário André Coelho de Souza. Na imprensa, nos jornais O Pioneiro e Folha de Hoje, têm realce fotógrafos(as) como Carla Pauletti, Edson Corrêa, Luiz Chaves, Porthus Junior, Roni Rigon, Vasco Rech (este que também atendia a polícia civil para fotografia forense).

Nas últimas décadas do século 20, a produção de uma fotografia já estava acessível a boa parcela da população. Naquele contexto, o interesse pela área foi despertado também nos amadores, que se organizaram para criar uma entidade própria: em 1980, surgiu o Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul, reunindo nomes como Aires Battistel, Aldo Toniazzo, Ary Trentin, Joel Jordani, Severino Schiavo, Walter Brugger.

A criação do Curso de Graduação em Fotografia na Universidade de Caxias do Sul (UCS), em 2005, foi outro marco importante dessa história, e foi iniciativa vanguarda, sendo o primeiro curso do gênero no Rio Grande do Sul e um dos primeiros no Brasil. Diversos nomes hoje atuantes na área tiveram passagem pelo curso, destacando-se nacionalmente em fotografia de retrato, de casamento, de moda.

Igualmente importante para a história da Fotografia local são os acervos visuais constituídos pelas instituições públicas ou custodiados pelas entidades privadas. São exemplos o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, que possui um acervo com milhares de suportes e formatos fotográficos que ajudam a contar a história da cidade desde seus primórdios, e o Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS, que possui o acervo fotográfico do Projeto Ecirs, um dos mais significativos sobre a cultura de imigração italiana no Brasil.

Moenda de cana, fotografia documental no acervo do Projeto Ecirs. Santa Lúcia do Piaí – Caxias do Sul. Data: 1986. Autoria: Aldo Toniazzo e Ary Trentin. Acervo: Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS.

Havendo sempre renovação na área, com novos profissionais e entusiastas, múltiplos olhares continuam produzindo uma memória visual da cidade, seja utilizando a fotografia como forma de negócio, de documentação, de expressão artística, ou pesquisando-a no nível histórico, sociológico ou antropológico, o que demonstra o vigor que a fotografia ainda possuem para a economia e a cultura de Caxias do Sul.

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto produzido por: Anthony Beux Tessari Mestre e Doutorando em História

Revisão do texto: Paula Valduga

Referências