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Carreteiros

A importância dos carreteiros para o desenvolvimento da Terceira Légua

Os carreteiros fazem parte da história da 3ª Légua


Com a conclusão da Estrada Rio Branco, no final da década de 1880, começou um intenso tráfego de carretas entre a sede da Colônia Caxias e o Porto dos Guimarães, que ficava nas margens do Rio Caí. Era ali que atracavam os vapores que vinham de Porto Alegre. Foi também por essa estrada que subiram os imigrantes que ocuparam a região a partir de 1875, já que esse foi o caminho mais curto entre Caxias do Sul e São Sebastião do Caí até a chegada do trem, em 1910.

Conforme Masson (1940), a primeira carreta que desceu a Estrada Rio Branco a partir da Colônia Caxias foi descrita da seguinte forma:

 “Descia periodicamente a S. Sebastião do Cai um italiano residente naquela colônia, trazendo farinha de trigo em cargueiros, pois ainda não havia estradas de rodagem na região. Perdeu-se, infelizmente, o nome desse colono empreendedor, pioneiro do intercâmbio comercial de Caxias com S. Sebastião do Cai. Um dia, os moradores desta localidade, que já estavam habituados a ver o italiano tocando por diante suas mulas de carga, tiveram uma surpresa que seguramente não foi pequena: o homem entrava na vila sentado numa carreta puxada por três juntas de bois. (...) Para que os bois aguentassem a penosíssima viagem, o colono mandara ferrá-los!”.

A partir dessa primeira viagem, seguiram-se anos de circulação intensa de carretas. O ápice aconteceu entre o final da década de 1890 e os anos 1910. Em 1908, por exemplo, a bibliografia consultada - e citada ao final deste texto - informa que chegaram a circular pela Estrada Rio Branco 13.079 carretas de quatro rodas carregadas e 1.581 vazias. Já considerando as carretas de duas rodas, os dados pontam 1.676 carregadas e 766 vazias. Ao todo, passaram por ali 14.753 carretas, que transportaram 26.555 toneladas de mercadorias. O caminho ainda recebeu 16.805 cargueiros carregados e 3.317 vazios, além dos 6.724 bois.

As carretas de quatro rodas costumavam ser puxadas por sete mulas, carregando no mínimo 1.200 quilos e no máximo duas toneladas de mercadorias. Os animais caminhavam a uma velocidade de cerca de 5 km/h, com exceção do trecho arenoso que ficava próximo à Vila do Caí, onde andavam a cerca de 2,5 km/h. Para conduzir as carretas, era obrigatório ter carteira de habilitação, e diversas pessoas faziam fretes para casas comerciais, garantindo o seu sustento por meio da Estrada Rio Branco. Circulavam por ali também vendedores ambulantes e donos de casas comerciais que iam pessoalmente buscar as mercadorias.

Gustavo Luche Vieira conhece um pouco do que acontecia nessa época por conta dos relatos do trabalho seu avô, Adelmar. “O meu avô trabalhou com uma junta de mulas e andava de noite. Ele colocava um lampião na frente, na junta de mulas, e segurava outro. Levava madeira de madrugada”, conta. Conforme o tempo foi passando, ele se tornou motorista de ônibus, e a sua atuação no setor de transportes acabou passando para as próximas gerações da família. Gustavo e seu irmão mais novo atuam nesta área, assim como um tio deles. “A gente brinca que, na nossa família, ao invés de correr sangue nas veias, corre diesel”, diverte-se. Atualmente, só Gustavo e um irmão trabalham com transporte, mas houve um tempo em que os três atuavam na área. “Eu tinha o sonho de trabalhar como motorista de ônibus desde pequeno e consegui realizar durante a pandemia. Foi quando eu decidi que iria tirar a carteira e consegui”, relata. Ele não tem dúvidas que houve influência da família, incluindo o legado do avô como carreteiro.

Curva e declividade da Estrada do Imigrante exigem cuidados e atenção para trafegar.

Como Adelmar, existiam muitos outros, e ele tiveram um papel importante no crescimento da 3ª Légua, já que o seu desenvolvimento esteve diretamente ligado à Estrada Rio Branco. Mas a vida não era fácil. Em muitos casos, como as curvas eram acentuadas, era preciso que um carreteiro parasse, porque eles não conseguiam se cruzar. E para a mula voltar a subir, levava um tempo. Há relatos de mulas que entravam em buracos e precisavam ser puxadas para fora amarradas em correntes e de dias de chuva em que tudo ficava ainda pior. Conforme os registros bibliográficos, o carreteiro precisava ter prática na lida com os animais e com a carreta e força física para dar conta do trajeto.

Por conta do movimento intenso e por ter sido o caminho usado pelos imigrantes europeus, que subiam a pé no início da colonização, essa rota acabou se tornando um atrativo turístico com o nome de Estrada do Imigrante!

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania L. Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fotos: Marivania L. Sartoretto e foto carreteito Autoria: Rodolfo Balzaretti. Acervo AHMJSA

Ano: 2025 

Para creditar

SARTORETTO, Marivania L.; VALDUGA, Paula. Os carreteiros fazem parte da história da 3ª Légua. Caxias do Sul: Patrimônio, Marcos e Lendas / Lei Paulo Gustavo, 2025. Disponível em: https://www.guiadecaxiasdosul.com/turismo/patrimonios/patrimonios-e-lendas/carreteiros

Referências

BRAMBATTI. Luiz. Roteiros de Turismo e Patrimônio Histórico. Porto Alegre: EST Edições, 2002. 

MASSON, Alceu. Caímonografia. São Sebastião do Caí, RS: Prefeitura Municipal de Caí, 1940. 

Depoimento de Gustavo Luche Vieira