África o continente mãe da humanidade
A África é o lugar da aurora da humanidade. Conforme estudos o fato da porção africana apresentar as condições geomorfológicas mais antiga e que se manteve intacta quando do desprendimento de formações continentais da antiga pangeia, originando a América e a Eurásia. O processo de transformação que levou ao surgimento dos primeiros seres humanos, chamamos de hominização. Esse processo remonta a mais ou menos 4,5 milhões de anos. Os primeiros fósseis foram encontrados no hoje território da Tanzânia, os arqueólogos batizaram de esses hominídeos de Australopithecus africanus, em 1924 foi descoberto um esqueleto quase completo (40%) em Afar na Etiópia, recebendo o nome de Australopithecus afarensis , o fóssil encontrado foi batizado de Lucy e que teria vivido a mais ou menos 3 milhões de anos. Também na África surgiu o Homo Habilis mais ou menos a 1,5 milhões, essa espécie de hominídeo usava linguagem verbal que foi possível transmitir os conhecimentos adquiridos, desenvolvia atividades coletivas, produzia material lítico de pedra lascada para caça, domesticou o fogo o que representou um salto qualitativo na existência desses humanos.
Título do mapa: África tabula nova / Criador: Ortélio, Abraão / Contribuinte: Projeto PALMM / Data: 1570 / Editor: Abraham Ortelius, Antuérpia. Fonte:commons.wikimedia.org
O continente africano é a porção mais antiga do planeta , apresenta uma enorme extensão territorial de 30.343.511km², o que equivale a 22% da superfície da terra. o continente é dividido em cinco regiões: África Setentrional (Marrocos, Argélia,Tunísia e Líbia), África Oriental (Egito,Sudão, Eritréia, Etiópia,Djibuti,Uganda,Quênia, Somália,Burundi,Tanzânia), África Ocidental (Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné, Guiné BIssau, Cabo Verde, Serra Leoa, Libéria, Níger, Nigéria,Mali,Burkina Faso, Costa do Marfim,Camarôes,Guiné Equatorial e Gabão), África Central ( Chade, República Centro Africana, Congo, República Democrática do Congo e Ruanda). África Austral ( Angola ,Namíbia, Botsuana, Zâmbia, Moçambique, África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Zimbábue , Moçambique e Madagascar).
Foi no continente africano que floresceu uma das maiores civilizações do mundo antigo, o Egito. a civilização egípcia influenciou os gregos , romanos , seus vizinhos ao sul do nilo. Foi prodigiosa na medicina , avanços tecnológicos, obras monumentais, a concepção da vida após a morte, guardiã de mistérios cujo os segredos eram guardados pelos sacerdotes.
Contextualizar o local de partida dos africanos cativos pelo sistema colonial é uma maneira de resgatar a história de pessoas que tiveram a sua trajetória de vida transformada pelo fenomeno da escravidão. Estima-se que mais ou menos 10 milhões de almas cruzaram o Atlântico em direção as Américas e a maioria desses africanos chegaram ao Brasil, para trabalhar nas plantações de cana de açúcar, algodão, café , charqueadas entre outros . O evento que marca a saída de um número significativo de africanos é chamado de Diáspora Africana. O cantor, compositor e poeta Jorge Ben Jor em sua música Zumbi do álbum A Tábua de Esmeralda (1974) nos apresentou as diversas etnias africanas que chegaram no Brasil através do Tráfico Negreiro como os : Angola, Congo, Benguela, Monjolo,Cabinda, Mina, Quiloa, Rebolo. Estas etnias, contribuíram para a formação da cultura brasileira, uma cultura bem diversa e com forte influência africana. Revelar traços de África nas práticas culturais da diáspora africana é uma tarefa necessária como gratificante para o pesquisador e claro para a cidade que se percebe diversa e olhando para o futuro.
Diáspora Africana
Mapa da diáspora africana do início do século XVII até 1873. Fonte: A Cor da Cultura. Disponível em: http://www.acordacultura. org.br/sites/default/files/kit/Caderno1_ModosDeVer.pdf
O significado da palavra diáspora é dispersão, aqui utilizado com dispersão forçada de contingentes populacionais do continente africano, através do tráfico negreiro transatlântico .Por Diáspora, entende-se para além do deslocamento forçado, compreende-se que o fenômeno da Diáspora é antes de tudo uma relação de resistência dos princípios constitutivos (culturais) que moldaram os milhões de almas africanas que aqui chegaram. A Diáspora Africana é uma ativação de uma memória da terra ancestral, conforme Macedo:
“ [...] foi a memória da África como terra ancestral que os cativos transportados para o Novo Mundo condições para sobreviver ao processo de espoliação a que se viram submetidos e lhes oferecer alternativas novas de convivência e resistência.”
Múltiplas formas de ressignificação da África foram desenvolvidas em nosso país. Uma característica marcante da diáspora é o diálogo que trava com outros atores culturais, aqui no caso, indígenas e europeus. Esse diálogo acabou promovendo sínteses que podemos ver materializadas nas religiões afro-brasileiras.
A Diáspora Africana também significou a ocupação de territórios em que o corpo negro circulou hora como mão de obra cativa , hora como livre ou fugido e nos espaços ocupados após a abolição. Este corpo negro foi percebido em todos os momentos da vida cotidiana brasileira, como bem demonstram os viajantes, através dos seus relatos e gravuras.
1 - Descrição Obra: Escravo negro conduzindo tropas na Província do Rio Grande. Data:por volta de 1822.Autor: Debret. Fonte:commons.wikimedia.org
2 - Baile da Rainha do Clube Gaúcho, Caxias do Sul. Clube fundado em 1934. Fotógrafo não indentificado - Fonte: Acervo Centro de Memórias Câmara de Caxias do Sul.
A ocupação de determinados territórios por negros pode ser classificado em quilombos : urbano e rural, em territórios negros geralmente no espaço urbano (locais de grande circulação da comunidade negra). Conhecer a geografia negra é importante para realçar a importância dessa comunidade na formação de uma determinada localidade. No caso da cidade de Caxias encontramos localidades que podem ser consideradas como uma territorialidade negra. Essas localidades são espaços de circulação de ideias, saberes e apresentam um olhar crítico sobre a vida e a situação social das comunidades negras espalhadas pelo Brasil. Exemplo é o movimento Hip-Hop que com sagacidade percebe o espaço periférico como o espaço de esquecimento mas também, de resistência, que se ampara no exemplo dos ancestrais , nos informando dessa maneira, aspectos vividos por estas comunidades.
O fenômeno da Diáspora produziu um leque variado de formas de resistência, entre elas:
As religiosas: Islamismo,Calundu, Candomblé. Irmandades Religiosas dos homens de cor, destaque para as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário que já existia na região Congo-Angola e que aqui foi replicada, festa de reis e rainhas negros, Umbanda.
As sociais: relações familiares, de amizade e compadrio. Criação de sociedades, os chamados clubes sociais negros. Congadas, Maxixes, Maracatu, Afoxés, Blocos Afro
A Linguística : forte influência no português do Brasil.
Música: Samba, samba de roda, coco, embolada, swing samba rock, Lundu, umbigada, Tambor de Mina , Movimento Hip-hop. A capoeira é uma arte marcial disfarçada de dança que através do gingado o capoeirista se movimenta até derrubar seu adversário. Todas estas manifestações recompõem de alguma maneira aspectos do continente africano que ficou para trás mas que não foi esquecido.
A mesa, ou melhor, a culinária , nos mostra a influência africana na composição de diversos pratos que estão espalhados pelo Brasil. A culinária afro-brasileira teve como inspiração a comida oferecida para os Orixás que chegava a Casa Grande . Comidas como Acarajé, Angu, Vatapá, Churrasco de Costela (lanceiros negros), temperos como: noz moscada, pimenta malagueta, leite de coco, quiabo, azeite de dendê.
A partir de estudos pioneiros e mais recentes, nos é possível enxergar a contribuição da população negra ou afro-descendente na cidade de Caxias. Clubes sociais, casas de religião de matriz africana, localidades em que a população negra foi ou é predominante. Espaços como escolas de samba e times de futebol. A diáspora africana na cidade de Caxias estará melhor descrita no segundo texto que compõe este trabalho em que apresento a presença negra, seus territórios e significados.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto
Texto produzido por: Orson Soares Mestre e Doutorando em História
Revisão do texto: Paula Valduga
Referências
CARENGNATO, lucas. A outra face: A presença de Afrodescendentes em Caxias do Sul.
CAXIAS do SUL.Instituição do monumento do Orixá Ogum.
CAXIAS do SUL. Projeto de Lei. Fluência Casa de Hip Hop.
CHAGAS,Mário. Cultura, patrimônio e memória.
GIRON.Loraine Slomp. Presença africana na serra gaúcha.
GOMES, Fabrício Romani. Associativismo negro em Caxias do Sul.
MACEDO,José Rivair. História da África. Editora Contexto,São Paulo,2013.
ROCHA,Ricardo de Souza. A noção do monumento: do mármore ao incômodo.
SILVA, Bruno Rodrigues da. A influência alimentar em rituais de umbanda na cidade de Caxias do Sul, 1966-2018.
A COR DA PELE, Documentário,UCS.