Silvicultura - Plantações que preservam e embelezam
Silvicultura é mais uma característica positiva de Vila Oliva
Forte na extração de madeira, distrito preocupa-se com a preservação do meio ambiente
Além de contribuir fortemente para que Caxias do Sul seja o maior produtor de hortifruti do Estado, o distrito de Vila Oliva também se destaca pela extração da madeira. Por lá, uma palavra desconhecida de um grande número de pessoas é bastante difundida: silvicultura. Segundo a Embrapa, ela vem do latim e quer dizer floresta (silva) e cultivo de árvores (cultura). Ou seja: silvicultura é a ciência que estuda formas naturais e artificiais de restaurar e melhorar o povoamento nas florestas de forma a atender as exigências do mercado. Pode ser aplicada na manutenção, no aproveitamento e no uso consciente das plantações.
É sobre essa outra força de Vila Oliva que vamos falar nesse texto. Mas, antes, é preciso contextualizar um pouco como surgiu a relação do homem com a madeira. Pesquisas nos informam que ela começou ainda com os primatas. Seus primeiros usos foram para construir casas e construir ferramentas necessárias para a caça. Por oferecer conforto térmico, a madeira até hoje é usada na construção de residências. E por flutuar, ajudou o homem a se locomover em rios durante muitos anos.
Conforme um artigo publicado no site Tora Brasil, cientistas apontam que a madeira existe no mundo há 200 milhões de anos, enquanto o homem surgiu há dois milhões. Depois de servir à caça e às moradias, também passou a ser usada para fazer utensílios domésticos, alguns dos quais usamos até hoje. E, é claro, não podemos esquecer que a madeira sempre foi utilizada para fazer fogo e aquecer quem vivia nos tempos primórdios. Em pleno século 21 e com a tecnologia no estado de desenvolvimento em que está, a madeira segue com uma importância muito grande nas nossas vidas. Pensar apenas nos móveis é suficiente para enxergarmos isso com clareza.
Por isso, a demanda por ela é muito grande. E Vila Oliva, no interior de Caxias do Sul, destaca-se pela extração e fornecimento desse material tão significativo. Antes da chegada dos portugueses ao país, o solo brasileiro era repleto de matas virgens, e os índios extraiam a madeira para fazer tintas, construir canoas e armas de caça. A extração, porém, acontecia em pequenas quantidades, apenas o necessário para sua sobrevivência. A região de Vila Oliva era habitada por tribos de índios Kaingangs e Xoklengs e esses povos contribuíram para a disseminação da floresta de araucárias pelo território, segundo o artigo Araucária, o baobá dos povos do sul do Brasil, da Universidade do Paraná. “Estudos arqueológicos mostram a relação direta desta população indígena com a distribuição da Mata de Araucária”, escreve o professor Ricardo Cid. A partir da chegada dos colonizadores portugueses, a situação se alterou. As árvores de Pau Brasil passaram a ser derrubadas em uma velocidade maior e a relação dos moradores do país com a madeira começou a mudar. Por um longo período, a extração da madeira foi a principal atividade econômica do Brasil.
Por aqui, a história da extração da madeira na região de Vila Oliva começa em 1932, quando os irmãos Oliva (Francisco e Luiz) compraram 33 mil quilômetros quadrados de terra com a maior parte ocupada por pinheiros e mata nativa. Eles começaram a explorar a madeira de pinho e seus funcionários adquiriram terrenos nas proximidades, dando origem à vila que homenageou seus fundadores. Ou seja, a importância da madeira para o distrito é tão significativa que está ligada ao seu nascimento como uma vila.
Nessa época, porém, já havíamos passado pelos índios e pelos portugueses e vivíamos a imigração italiana, que começou em 1875. Em comemoração aos 50 anos do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Madeireiras; Serrarias, Carpintarias, Tanoarias; de Esquadrias; das Marcenarias, de Móveis; das Madeiras Compensadas e Laminadas, de Aglomerados e Chapas de Fibras de Madeiras do Rio Grande do Sul (Sindimadeira-RS), foi publicado em 2016 o livro Araucária : raízes da industrialização, escrito pelo jornalista Paulo Renato Marques Cancian. Na obra, ele afirma: “Foi a existência da madeira que permitiu a permanência do imigrante na região”. Cancian relata que os pinheiros eram derrubados com machado, e troncos maciços eram usados para a construção de casas. Como eles receberam apenas terras brutas, foi necessário erguer tudo, residências, capelas, espaços para trabalhar. Como o material abundante era a madeira, ela acabou sendo bastante usada.
Dali para o uso da madeira como atividade econômica foi rápido. No final do século XIX, conforme o livro, "serrarias e moinhos eram a mola propulsora do progresso, consubstanciado na multiplicação das cantinas rurais, origem das vinícolas”. E de lá até hoje, como vemos, o papel da madeira no desenvolvimento econômico só cresceu. E, por isso, a silvicultura torna-se tão importante. No livro do Sindimadeira, há um registro que aponta a região de Caxias do Sul como pioneira em reflorestamento. Durante as décadas de 1930 e 1940, surgiram diversas empresas de extração de madeira por aqui. Uma delas, a Madezatti, se desenvolveu muito e, nos anos 60, era um dos maiores complexos do Sul do país. "O associativismo estava em alta e foi responsável pela conquista de um lugar privilegiado do segmento na indústria gaúcha e brasileira. As organizações passaram a investir não mais apenas na extração da madeira com foco na exportação, mas na alavancagem da cultura do reflorestamento, antecipando-se à política de governo de incentivar o desenvolvimento plantações comerciais”, escreve o autor.
Com o tempo, o movimento foi crescendo e teve seu auge na década de 1980. Trazendo a silvicultura para o presente, temos como base o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou números de 2017. Naquele ano, o Brasil tinha 109.082estabelecimentos agropecuários com produtos da silvicultura. Desses, 42.069 (38,5%) estavam no Rio Grande do Sul.
O mesmo censo aponta que, em Caxias do Sul, os produtos da silvicultura eram, em 2017, lenha, madeira em toras para papel, madeira em toras para outras finalidades, mudas de pinheiro, mudas de eucalipto, mudas de outras espécies e cascas de acácia negra. Considerando a velocidade de crescimento da população no mundo, é fácil perceber a importância de se fazer uma manejo que leve em conta a preservação do meio ambiente. E é isso que a silvicultura garante.
Novamente segundo a Embrapa, para que um projeto de silvicultura tenha sucesso, o planejamento e a implantação devem estar de acordo com as várias etapas do processo, que abrangem: estudo do clima, determinação da espécie e da escolha do material genético, produção de mudas, preparo do solo, controle de pragas, colheita planejada, tratos culturais e silviculturais. Segundo o Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), nós usamos as melhores tecnologias disponíveis para a silvicultura do eucalipto, obtendo como benefícios a diminuição da pressão sobre as florestas nativas, o reaproveitamento de terras degradadas pela agricultura, o sequestro do carbono, a proteção do solo e da água, ciclos de rotação mais curtos em relação a países com clima temperado e maior homogeneidade dos produtos, o que torna mais fácil a adequação de máquinas na indústria. Porém, trata-se de uma atividade desafiadora e conseguir mão de obra para trabalhar nela não tem sido fácil.
Dividida em duas formas, clássica e moderna, a silvicultura é fundamental para a conservação dos biomas presentes e a restauração dos recursos hídricos e da biodiversidade. Em uma definição resumida, podemos afirmar que a silvicultura clássica refere-se ao manuseio de florestas naturais, visando estímulos de produção que não danifiquem o ecossistema. Já a moderna está diretamente ligada ao manuseio de plantações cultivadas de forma artificial.
A cadeia produtiva das plantações são amplas conforme apresenta o gráfico. Vale destacar a produção de celulose. Em 2017 o Brasil se firmou como segundo maior produtor de polpa de celulose do mundo. Com uma produção acima de 18,8 milhões de toneladas segundo Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) acompanha anualmente o desempenho do setor.
A celulose é um dos materiais mais presentes no cotidiano ela serve como matéria-prima para diversos tipos de papel, fraldas descartáveis, tecidos, papel higiênico, absorventes, enchimento de comprimidos, emulsionantes, adesivos, biocombustíveis, materiais de construção entre outros.
As celuloses são provenientes de florestas 100% plantadas de pinus e eucaliptos com certificações globalmente reconhecidas que abrangem desde a madeira até o produto final, garantindo a sustentabilidade e a segurança do começo ao fim do processo.
A força que essa ciência ganhou no Brasil pode ser medida, também, por um dado do IBGE. Conforme o instituto, o número de plantações cresceu de 33% para 77% entre os anos de 1990 e 2000. Dados mais recentes, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) o setor brasileiro de árvores plantadas apresentou crescimento de 13,1% em 2018 com relação ao ano anterior. Em Vila Oliva, o assunto é levado muito a sério e essa é mais uma característica positiva de um lugar que se destaca no Estado e no país.
Além de proteger o meio ambiente, a silvicultura ainda cria lindas paisagens. “Plantações" de pinus se espalham e criam caminhos que desenham cenários maravilhosos. Além de admirar e curtir em um passeio, pessoas também os utilizam como fundo para ensaios fotográficos. Tanto produções de catálogos de moda quanto ensaios de noivos ficam lindos quando emoldurados por essas árvores tão altas. Tirar um tempo para ficar entre elas também permite desacelerar e curtir o momento presente sem a correria da cidade. Portanto, além de ajudar a natureza, a silvicultura ainda faz bem para o turismo e para a qualidade da vida. Basta saber aproveitá-la!
Produção: Guia de Caxias do Sul
Coordenação: Marivania Sartoretto
Textos: Paula Valduga
Fontes de informações: Secretárias Municipal da Agricultura e Receita, IBGE, Embrapa, Universidade Federal de Santa Maria, SINDIMADEIRA, Tora Brasil, Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Portal Guia de Caxias do Sul, artigo Araucária, o baobá dos povos do sul do Brasil, da Universidade do Paraná, Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF)
Fotos: Marivania Sartoretto, divulgação Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Adri e Nadine Marcolan e acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami,
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