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Rio Caí

Rio Caí: desenvolvimento econômico e lazer

O acesso a uma localidade é um dos fatores que contribuem para o seu desenvolvimento desde sempre. Atualmente, Vila Cristina se desenvolve à beira da BR-116. No século 19, a localidade de Nova Palmira, que pertence ao distrito, teve prosperidade por estar às margens do Rio Caí. Em uma época que o fluvial era um modal de transporte fundamental, Nova Palmira recebia tanto imigrantes quanto produtos que chegavam da Capital e é inegável a importância que o Porto do Guimarães  teve nessa prosperidade.

Porém, a relação dos moradores dessas terras com o rio é anterior. Segundo o livro Estrada Rio Branco - O Caminho da Emancipação, "as tribos de índios coroados que habitavam esta região transitavam entre o Rio Caí e o Rio das Antas, raramente ultrapassando esses limites geográficos”. Eles viveram por aqui no início do anos 1600 e já identificavam a proximidade com o rio como importante. O mesmo aconteceu com os povos que vieram em seguida, os bandeirantes. No mesmo livro, há o relato de que a bandeira de Antônio Raposo Tavares, que partiu de São Paulo em 1636, chegou ao território do Rio Grande do Sul pelo rio Pelotas-Uruguai. Dali, seguiu para Vacaria e para os Campos de Cima da Serra, onde fica o Rio Piaí, afluente do Caí. Foi por meio dele que o bandeirante conseguiu acessar Caxias do Sul, Farroupilha e Garibaldi.

A importância do Rio Caí para região é inegável e passa, também, pelo grande território que ele cruza na Serra Gaúcha, inclusive marcando os limites entre municípios. Suas águas passam por São Francisco de Paula, Vila Oliva (onde determina o limite entre Caxias e Canela), Santa Lúcia do Piaí (Caxias e Nova Petrópolis) e segue até chegar a Nova Palmira. Não por acaso, localidades que o tinham por perto foram consideradas terras produtivas e foi 3e colonizadas anteriormente, sem passar pelo processo de serem tratadas como improdutivas, classificadas como devolutas e vendidas novamente após alguns anos.

No artigo Representações da cidade: lazer e sociabilidades a partir do Rio Caí (1875-1950), escrito por Janice Roberta Schröder para o 1º Colóquio Internacional de História Cultural da Cidade, a autora afirma que durante esse período citado no título, o Rio Caí era uma importante escoadouro de mercadorias e uma via de acesso a bens não fabricados na região. Segundo ela, isso possibilitou a elevação do povoado de São Sebastião do Caí à categoria de Vila, em 1875, devido ao Porto do Guimarães. “A pesquisa estende-se até meados do século XX, quando a navegação no Rio Caí, que passava por um processo de declínio já há algumas décadas, praticamente desapareceu, especialmente devido ao investimento em rodovias em detrimento do investimento em hidrovias.”, relata a autora.

O uso do rio para transporte de mercadorias foi muito forte também na região de Caxias do Sul. A madeira cortada em Vila Oliva era transportada por meio dele até Vila Cristina  e, posteriormente, a Porto Alegre. Na obra, Retalhos de Nossas Origens, Elenita Schmitt Witt, descreve como eram as balsas usadas para o transporte da madeira. “As balsas eram tábuas amarradas com cordas fortes, muitas dúzias de tábuas. Os balseiros, ou homens que as guiavam, eram fortes e corajosos.”. Havia, porém, uma questão importante a ser observada. Segundo Elenita escreve no livro, o transporte das tábuas nas balsas só era possível quando o rio estava grande, ou seja, cheio. Os balseiros eram os responsáveis por entregar as tábuas aos compradores na Capital, mas em algumas ocasiões, não conseguiam chegar lá sem contratempos. “Às vezes, estourava uma balsa e iam tábuas para todo o lado. A viagem era muito perigosa, os baleiros enfrentavam muitas dificuldades e sabiam nadar muito bem. Quando as tábuas estavam entregues, o retorno para casa era a pé, levavam mais de uma semana para voltar de Porto Alegre, por exemplo.”, relata a autora.

Com o tempo, as balsas foram dando espaço para os barcos a vapor, que navegavam pelo Rio Caí do Porto do Guimarães até a Capital. Eles são citados em um texto de Renato Klein no portal Fato Novo. O autor escreve que barcos grandes mantinham linhas regulares de navegação entre Porto Alegre e o Caí, mesmo nos meses mais secos. “Até a década de 1930, o modo mais utilizado pelas pessoas para viajar do Caí a Porto Alegre era o barco a vapor. Foi só na década de 40, com as melhorias feitas na estrada até São Leopoldo, que o ônibus se tornou mais prático, rápido e econômico”, informa Renato no texto. Segundo ele, os barcos conseguiam subir o até o Caí por dois motivos. O primeiro é a barragem que existia no Pareci, com comportas com que permitiam a passagem dos barcos e elevavam o nível do rio entre o Pareci e o Caí. O segundo era o trabalho constante de dragagem feito no rio para retirar a areia que se acumulava no seu leito.

Como tudo acontecia a partir do rio, o traçado da Estrada Rio Branco foi feito seguindo o leito do Caí. Ela teve o seu trajeto definido em 1874 e, hoje, se você a percorrer, consegue perceber que está costeando o rio. Por meio dela, seria possível conectar Nova Palmira e arredores com o Porto do Guimarães. Esse objetivo foi atingido, possibilitou que a localidade se desenvolvesse e ainda, por consequência, permitiu que, mais tarde, a chegada dos imigrantes fosse facilitada. Em outros capítulos desse conteúdo especiais, explicamos como diverços empreendimentos se tornaram prósperos a partir da proximidade com o Rio Caí. E continua até hoje como é caso da empresa Pettenati.

Porém, nem tudo era desenvolvimento econômico. O Rio Caí também servia para outras funções. Uma delas era para lavar roupa e a outra, para o lazer. No artigo Representações da cidade: lazer e sociabilidades a partir do Rio Caí (1875-1950), há uma curiosidade sobre o rio. Ele também serviu para reunir pessoas para ocasiões sociais. Aos finais de semana, os vapores que eram usados para transporte de cargas ficavam atracados na região de São Sebastião do Caí. E então aconteciam os chamados “piqueniques”. As pessoas embarcavam, chegavam em um lugar ao ar livre escolhido pelo anfitrião, almoçavam, se divertiam e depois retornavam. Hoje, não há toda a preparação, mas é possível preparar algumas delícias e fazer um piquenique à beira do Caí.

Há também quem o procure para pescar. Segundo Giovane Santos, responsável pelo marketing da loja Samburá, de Caxias do Sul, o rio tem carpa, pintado e lambari. Por ser um lugar com muito enrosco, ele afirma que a pesca não deve ser feita com isca artificial. “Recomendamos o uso de isca natural, como minhoca, massa ou sagu. Temos iscas orgânicas aqui na loja e explicamos aos clientes qual é a mais adequada para o Rio Caí e outros lugares. Perguntamos o que e onde a pessoa vai pescar e então orientamos a montagem do equipamento adequado”, detalha Giovane.

Outra dica para o Rio Caí é usar sempre empate, uma chumbada mais leve e que levante rápido, por causa da correnteza. Em relação a ela, é sempre bom reforçar para ter cuidado, porque o Rio Caí é perigoso em uma eventual queda. Sobre proibições, Geovane explica que em outubro acontece a piracema, então o uso de rede é vedado. Mas a pesca com vara de mão e molinete continua permitida.

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Alguns dados sobre o Rio Caí

Tamanho da bacia hidrográfica: 5.057,25 km2

Extensão do curso d’água: 285 km

Abrangência da bacia: 41 municípios

TRECHOS

O Rio Caí é dividido em três partes com características distintas. Confira:

Curso superior: das nascentes até a foz do rio Piaí. É o trecho com maior declividade (entre 0,15 e 3,5 %)  e confinado numa calha estreita, com margens íngremes.

Curso médio: da foz do rio Piaí até São Sebastião do Caí. É a zona central e nordeste da bacia. Há alternância de trechos com escoamento lento e trechos com corredeiras.

Curso inferior: de São Sebastião do Caí até a foz. É parte mais plana do rio e da bacia. O rio possui maior vazão mas, como percorre área plana, numa menor velocidade, pode haver refluxo principalmente em épocas de estiagem.

 

AFLUENTES

Margem esquerda: Caracaol, Guaçú, Mineiro e Cadeia

Margem direita: Divisa, Muniz, Macaco, Piaí, Pinhal, Belo, Ouro, Mauá, Maratá e outros

O Rio Caí nasce no município de São Francisco de Paula com o nome de Santa Cruz. Na altura do arroio dos Macacos passa a chamar-se rio Caí. Banha os municípios de São Francisco de Paula, Caxias do Sul, Nova Petrópolis, Feliz, Bom Princípio, São Sebastião do Caí, Montenegro e Canoas numa extensão de 200 quilômetros, até desembocar no rio Jacuí. A rede hidrográfica da bacia do rio Jacuí é constituída pelo rio Caí e seus afluentes (arroio Cadeia, arroio Coitinho, arroio Bonito e arroio Roncador).Com uma área de aproximadamente 5 027 km², a bacia hidrográfica do Rio Caí equivale a 1,79% da área do estado do Rio Grande do Sul. Com uma extensão de 285 km, é composta de 41 municípios e de uma população de cerca de 384 mil habitantes, dos quais 25% habitam a área rural e 75% a área urbana.