Porto do Guimarães
Porto do Guimarães foi fundamental nas colonizações alemã e italiana
Na colonização de Nova Palmira, o acesso fluvial ganhou grande importância. A existência do Porto do Guimarães, em São Sebastião do Caí, foi fundamental para que o governo imperial conseguisse colonizar os fundos de Nova Palmira. As rotas eram as seguintes: por via fluvial, de Porto Alegre, navegando pelo Rio Caí, até o Porto do Guimarães; por estrada, do porto até o Passo da Boa Esperança, na Picada Feliz, e do passo da Boa Esperança até a Linha Cristina.
O nome Porto do Guimarães, no entanto, não foi o primeiro. Inicialmente, esse importante ponto de embarque e desembarque se chamou Porto Bernardo Matheus, e era também citado como “praia”. Ainda foi chamado de “Porto Dona Theodora” antes de receber a denominação Porto do Guimarães. Posteriormente, a nomenclatura foi novamente alterada para “Porto de São Sebastião do Caí”.
Antônio José da Silva Guimarães Júnior nasceu em Porto Alegre no dia 2 de junho de 1809 e é considerado o fundador de São Sebastião do Caí. Por essa importância, teve seu nome associado ao porto. No livro Estrada Rio Branco - O Caminho da Emancipação, Luiz E. Brambatti faz referência a um relato do historiador Alceu Masson na monografia Caí, produzida em 1940. Segue o trecho destacado pelo autor:
“Na região em que ficava o porto, havia, a princípio, uma casa apenas. Era a casa da família Santos, que fora construída em 1806, perto da “cachoeira grande”. Depois, aparece como proprietário o velho Francisco Mateus, vulgo Chico Mateus. Por volta do ano de 1850, Antônio Guimarães adquiriu grande quantidade de terras do Velho Mateus e nelas fixou residência. A excelente posição das terras de Santos e Guimarães logo atraíram novos moradores para o lugar, que já era conhecido como Porto dos Guimarães. Com o decorrer dos anos, Antônio Guimarães abriu no lugar uma casa de negócio. Posteriormente, um irmão seu, de nome Quirino, também se estabeleceu com casa de negócio na localidade.” (MASSON, 1940, P 80-81).
A navegação até o Porto do Guimarães, no entanto, não era fácil. Durante o percurso pelo Rio Caí, era preciso passar por três cachoeiras e desviar de troncos que seguiam levados pela correnteza. A presença deles se deve ao fato de, antes da colonização alemã, o rio ser usado exatamente para o transporte de troncos. Eles eram cortados da mata, amarrados em feixes e jogados no rio para chegarem até Porto Alegre a partir da força da correnteza. Alguns ficavam presos em barrancos e causavam acidentes ao se chocarem com embarcações.
Apesar da dificuldade na navegação no Rio Caí, o Porto do Guimarães tinha muito movimento. Em 1875, com a chegada dos imigrantes italianos a Porto Alegre, o único caminho que existia para acessarem o Campo dos Bugres - posteriormente denominado Caxias do Sul - era pelo Rio Caí. E o Porto do Guimarães era a sua primeira parada. Eles permaneciam ali até que ficassem prontos os barracões e as casas provisórias e fossem feitas as medições das colônias.
A importância do Porto do Guimarães é inegável não apenas para a colonização alemã do Vale do Caí, mas também para a chegada dos imigrantes italianos que se estabeleceram no alto da serra. Em 1888, foi construído um cais de pedra, porque o movimento de passageiros, imigrantes italianos e mercadorias para abastecer as colônias da Serra era muito grande. Também eram escoadas pelo porto as mercadorias produzidas pelos colonos e vendidas nos centros consumidores da época: Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Montenegro.
Ponto inicial da Estrada Rio Branco, o porto teve seu auge, mas, com o tempo, entrou em decadência. Em 1910, foi inaugurada a ferrovia entre Montenegro e Caxias do Sul, e então o transporte fluvial perdeu força. Posteriormente, a ligação rodoviária entre Porto Alegre e a Serra, pela Estrada Júlio de Castilhos e, depois, via BR-116, foram mais dois avanços que diminuíram a atividade fluvial. A ligação ferroviária da Serra (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa) com Montenegro e Porto Alegre isolaram São Sebastião do Caí da rota de mercadorias. Os modais ferroviário e rodoviário, este fortalecido com a chegada do caminhão, a partir de 1930/40, decretaram o fim do Porto do Guimarães.
Fonte:
BRAMBATTI, Luiz E. Estrada Rio Branco - O Caminho da Emancipação. 2015