Sítio Canto do Sabiá contribuiu para o desenvolvimento do mirtilo no Brasil
O Sítio Canto do Sabiá tem uma história daquelas que parecem escritas para o cinema. Em um dia de 1998, um padre chega a uma propriedade procurando um terreno e um agricultor que cultivasse mudas de uma fruta que ninguém conhecia. Tampouco, havia informações suficientes sobre como fazer aquele trabalho. E, menos ainda, promessa de compradores. O agricultor com quem o padre Darci Bortolini falou era Nestor Soga, um dos principais produtores de mirtilo e de mudas da fruta. “O padre tinha mil mudas trazidas pela Embrapa e ninguém queria plantar. Quando ele falou comigo, eu disse que também não plantaria e que não tinha área”, conta Nestor.
Mas não foi assim que a história se desenrolou. O religioso era persistente e perguntou se não havia mesmo nenhum pedaço de terra, mesmo que pequeno. O agricultor acabou falando que tinha um potreiro cheio de pedras e samambaias, com a certeza de que o lugar não serviria e o padre iria embora. “Ele olhou e disse: é esse terreno mesmo que eu preciso”. Atônito, Nestor falou com a sua mãe, que também lidava com a propriedade em Forqueta, e reforçou que não plantaria aquela fruta. O que ouviu dela? “Você falou que tinha aquele terreno, agora você aguenta. Liga para ele e diz que sim. Se você deu a sua palavra, agora vai ter que aguentar”.
Começava assim uma história que tinha tudo para dar certo. E deu. Mas não sem dificuldades no caminho. Os agricultores da região estavam acostumados a plantar parreira, bergamota. Ninguém queria - e sabia - plantar mudas de 20 centímetros. Nestor plantou, para honrar a palavra, mas não sabia nem quando a fruta estava madura. “Nós íamos provando a cada vez que ela mudava de cor”, lembra. Se não havia informações sequer de cultivo, muito menos conhecimento nos mercados. E a produção era pequena para atendê-los. “Os primeiros anos foram complicados, sem saber se a produção estava correta e sem comercializar o produto, porque não segurava prateleira de mercado. Então fomos para a Embrapa em busca de ajuda”, conta. Nestor.
Foi por lá que eles se conectaram com o engenheiro Alverides dos Santos, o pesquisador que havia trazido as mudas dos Estados Unidos e trabalhava em Pelotas. O padre pediu a ele que se tornasse sócio e auxiliasse no negócio. O engenheiro estava a seis meses de se aposentar e disse que aceitaria o convite para começar após a aposentadoria. "Ele aceitou, mas disse que precisava de uma estufa para fazer mudas e deu todas as especificações. Nós fizemos, ficou pronta em 10 dias e começamos a fazer as mudas”, relata Nestor.
Com essa etapa dominada, eles entenderam que precisavam de mais produtores para ter frutas o suficiente para manter a prateleira do mercado. O foco passou a ser vender o mirtilo para divulgar e buscar novos agricultores que topassem plantar, inclusive em São Paulo. A notícia correu pelo centro do país e então Nestor foi parar no Globo Repórter. "Vieram aqui, fizeram uma reportagem sobre o mirtilo e explodiu. Começamos a receber pessoas de todos os lugares, não tínhamos infraestrutura, nem banheiro, elas queriam saber o que era, conhecer. Foi uma loucura. Tive que buscar gente para receber, explicar”. Esse foi o marco do negócio. Antes de a fruta ser conhecida, as pessoas provavam e cuspiam, porque não era doce como as que costumavam comer. E Nestor pensava: “onde eu fui me meter?”Hoje, ele sabe que se meteu em um negócio que deu muito certo. O que o levou a acreditar? “Eu sabia que era um sucesso nos Estados Unidos e o padre sempre acreditou. Fomos tentando e acabou dando certo”.
Atualmente, o Sítio Canto do Sabiá cultiva três variedades de mirtilo. Para chegar nesse número, Darci testou mais de 40 e é reconhecido como uma pessoa que contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do mirtilo no Brasil. “As da Flórida se adaptam bem aqui, mas tem outras que nem adianta insistir. Eu viajei, visitei plantações na Europa, na América Latina, procurei muitas variedades e fui experimentando”, diz. Hoje, é um fornecedor da fruta, de folhas para chá e de mudas e mantém as suas características de um típico agricultor da Serra Gaúcha. A pequena fruta chamada de blueberry nos Estados Unidos, conhecida por ajudar na longevidade, é vista também como um “medicamento”, assim como as folhas cultivadas na propriedade e comercializadas para melhorar a diabetes e algumas infecções.
Venda de Frutas
A venda do mirtilo é feita em embalagens apropriadas para o acondicionamento de pequenas frutas, com peso líquido entre 100 e 125 gramas. Para acompanhar o processo de automação do varejo, as embalagens apresentam código de barras em conformidade com com o sistema EAN 13, informações nutricionais, data da colheita e data de validade. Isso mostra que o que começou com a crença de um padre e o paladar de Nestor para “adivinhar" se a fruta já estava madura, se transformou em um negócio profissional.
Viveiro - venda de mudas
No Sítio Canto do Sabiá você irá encontrar o primeiro viveiro de mudas de mirtilo registrado na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul. Aqui são produzidas mudas de alto padrão sanitário em estufas apropriadas. O processo da criação da muda é realizado pelo Sr. Nestor Soga e sua família, acompanhados de pessoal treinado, tomando todos os cuidados necessários para o desenvolvimento apropriado da planta nas suas diversas etapas. Atualmente o viveiro cultiva Mirtilo das seguintes variedades: "Bluegem" "Climax" e "Florida M" comercializa mudas com um e dois anos de idade.