
Presença do Rádio
Caxias do Sul abriga, na atualidade, sete as emissoras, que se seguiram à pioneira Rádio Caxias, que entrou no ar em 27 de abril de 1946, propriedade da Rede de Emissoras Reunidas, e tendo como fundadores Joaquim Pedro Lisboa, Arnaldo Ballvé e Luiz Napolitano.
Muitos caxiense guardam com carinho as memórias relacionadas às emissoras locais. Testemunhos como da historiadora Cleodes Maria Piazza Júlio Ribeiro, lembram que até a década de 1970, as famílias possuíam um único aparelho de rádio que, segundo ela, ficava “entronizado na sala”. Ainda segundo Cleodes, desde cedo “eu percebia que a Rádio Caxias já se prestava à função de oferecer esse serviço de utilidade pública para a comunidade regional, além da difusão de notícias. Minha percepção, desde início, era de que a Rádio Caxias serviu sempre a fins coletivos”, com grande incentivo à cultura regional.
Outro depoimento vem do fotógrafo, automobilista e piloto Flavio del Mese que, recordando os anos 1940, nos informa que “havia as rádios de São Paulo e do Rio de Janeiro, que todo mundo ouvia, mas também a Belgrano e a Carve, El Mundo, e várias outras do Uruguai e da Argentina, que eram muito fortes. Antes da introdução da televisão, ficava todo mundo ao lado do rádio. Durante a Segunda Guerra, meu pai – o doutor Renato Del Mese – e os médicos italianos, colegas dele, tinham interesse no noticiário, porque a Caxias do Sul de então, era uma filial da Itália”.
Outra recordação de Del Mese reporta aos anos 1950, quando atuou como piloto: “Os voos eram por bússola, não havia rádio transmissor. Quando surgem as emissoras de rádios, em vez da bússola, você sintonizava a rádio do local aonde você queria ir. Você ia a Vacaria ouvindo a Rádio Vacaria, e assim por diante. Se saísse da rota, ia diminuindo o sinal e tu voltavas. Era para lá de primário, mas funcionava”.
Prefeito Victorio Trez sendo entrevistado por Getúlio Soares, repórter da Rádio Caxias. Acervo: AHMJSA. Período 1969 a 1972. Fotógrafo não identificado.
Passam-se as décadas, outras mídias vão surgindo, mas em Caxias do Sul o rádio continua fundamental para comunicação e entrelaçamento da comunidade. A cultura caxiense, especialmente, tem nas rádios locais suas grandes parceiras.E público ouvinte, sempre fiel, acompanha as rádios locais em casa, no trabalho, no carro.
Alias, a qualquer momento que um turista desaviasado pegue um taxi ou carro de aplicativo em Caxias do Sul, logo ficará surpreso com o rádio sintonizada pelo motorista, sempre uma emissora local. O som emerge do parelho com sotaque local, as notícias e os anúncios abordam questões e produtos locais, tanto urbanos como rurais, estes, espaços carinhosamente tratados como colonias.Não seria inapropropriado dizer que alma caxiense aflora lindamente nas vozes, sons e narrativas trazidas pelas rádios locais.
Nestor Garcia Canclini (1997) nos lembra que as sociedades civiscontemporâneas, cada vez menos, se dão como sociedades nacionais, e sim, como “conjuntos de pessoas que compartilham gostos e pactos de leitura em relação a certos bens (gastrônomicos, desportivos, musicais), os quais lhes fornecem identidades comuns”. Nestas novos sociabilidades, induzindo formas de exercício da cidadania, em Caxias do Sul as rádios parecem desempenhar papel fumdamental nesse sentido.
Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.
Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto
Texto produzido por: Susana Gastal
Revisão Texto: Paula Valduga
Referencias
Canclini, N. G. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997, p. 261
Del Mese, F.; Gastal, S. Flavio Del Mese, um nômade pelo mundo. Porto Alegre: Libretos, 2024.
Kirst, M. F.Rádio Caxias 70 anos: voz e identidade. Caxias do Sul, RS: Educs, 2017.