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Monumento a Anna Rech

Monumento a Anna Rech

Monumento de Anna Maria Pauletti Rech

Espaço ao ar livre, na praça Matriz em frente à Igreja Nossa Senhora de Caravaggio, no centro de Ana Rech.

Fácil deslocamento no bairro. Linha de ônibus Ana Rech e táxi-lotação Ana Rech fazem o trajeto do centro de Caxias até o bairro. 

Como chegar
Monumento a Anna Rech
Avenida Rio Branco, 1673, Ana Rech

Homenagem à italiana Anna Maria Pauletti Rech, que deu ínicio à colonização da localidade que hoje leva seu nome, em razão de suas inumeras ações a comunidade. O momumento em bronze, esculpido por Bruno Segalla, foi construído por meio de iniciativa de uma comissão de moradores e entregue em 11 de novembro de 1977.

A trajetória de Anna Maria Pauletti Rech

Em uma visão mais ampla e poética da história, podemos dizer que a trajetória do bairro de Ana Rech começou a ser escrita do outro lado do oceano, na cidade italiana de Pedavena, no dia 25 de março de 1831. Naquela data, nasceu Anna Maria Pauletti Rech, uma mulher que, aos 46 anos, partiu para o Brasil viúva e com sete filhos disposta a recomeçar a vida. Ao lado de outros imigrantes que estão entre os pioneiros na colonização, em abril de 1877, ela tomou posse do lote 104 no Travessão Leopoldina, um lugar que ficava na então chamada Oitava Légua da Colônia Caxias.

O seu filho mais velho, Angelo, ficou com um lote contíguo e, juntas, as terras somavam 50 hectares. O lugar era ermo, pouco habitado, mas Anna confiou em uma informação que recebeu junto com outros dados do lugar: havia uma estrada utilizada por tropeiros. Percebendo nela uma oportunidade, Anna aceitou o lote e decidiu que ofereceria comércio e hospedagem a esses viajantes. Desse primeiro passo até a sua morte, em 16 de maio de 1916, ela fez tanto que pela localidade, que ela recebeu o seu nome.

Tudo aconteceu de forma natural. Aproveitando o movimento da estrada dos tropeiros, Anna abriu uma hospedaria e um comércio, ambos de pequeno porte. Além de estrutura para os tropeiros, o seu negócio também oferecia um espaço adequado para o descanso dos animais. Conforme os primeiros tropeiros foram parando ali, a qualidade do que era oferecido começou a se espalhar boca a boca, e o negócio de Anna foi se tornando mais conhecido. Paralelamente ao crescimento do seu empreendimento e da própria localidade, que se desenvolvia também graças ao empenho dos demais imigrantes que ali chegaram, Anna se aproximava da comunidade graças à sua prestatividade. Ela estava sempre pronta para ajudar quem precisasse e foi se tornando uma referência na Oitava Légua.

Entre as atividade paralelas que exercia, estava a a de parteira. Anna não tinha receio de passar por estradas vicinais que apresentavam péssimas condições. Se sabia de uma mulher que precisava de parteira, ela subia na mula e pegava o seu caminho. Se a família podia pagar, ela cobrava. Quando isso não era possível, fazia o parto sem receber nada em troca. E ainda levava um galinha para contribuir com a alimentação da parturiente. Há relatos de que, em dias de inverno e úmidos, Anna chegava de volta em casa molhada, suja de barro e sentindo muito frio. Porém, nada parava a dedicação que ela tinha à comunidade em que havia se instalado. Para se ter uma ideia da confiança que a população tinha nela, um recém-nascido chegou a ser deixado na sua porta. Ela o acolheu. 

Outro momento emblemático da forte relação de Anna com a Oitava Légua aconteceu em 1881. Cinco anos depois da chegada dos pioneiros - inclusive ela -, a localidade já tinha um número regular de moradores. A imigrante, então, doou uma parte das suas terras para a construção de uma capela em honra a Nossa Senhora de Caravaggio. Como ela não tinha escritura, o registro da doação, que se tornou necessário em 1902, foi registrado no Livro Tombo. A área tinha 84 metros de frente e 70 metros de fundos.

Tudo isso acontecia em meio ao grande movimento de tropeiros, que vinham de diversos lugares e passavam pela estrada da Oitava Légua. Anna comercializava mercadorias com eles e passou a receber encomendas dos colonos. Entre os produtos pedidos, estavam queijos, charque e cachaça, além de vacas e cavalos. Percebendo que tratava-se de um negócio rentável, outros moradores decidiram abrir hospedarias e comércios e receber os tropeiros, e a variedade de produtos oferecidos ali foi crescendo. Chegou um momento em que alguns dos viajantes nem iam mais até o centro de Caxias do Sul e comercializavam tudo na localidade.

Eram muitas tropas, chegando a passar até mesmo 10 em um único dia. Diante disso, a notícia sobre os produtos que estavam disponíveis no comércio de Anna se espalhou por toda a colônia, e alguns moradores de outros lugares passaram a ir até lá fazer suas compras ou encomendas. Eles falavam que iam comprar “lá na Anna Rech”, e, assim, naturalmente, o nome dela acabou se tornando também a denominação da localidade. Por ser distante e ainda pequena, Ana Rech passou despercebida durante o nacionalismo, e o nome da imigrante italiana acabou mantido. Oficialmente, a localidade de Ana Rech foi fundada em 26 de setembro de 1927.

A homenagem é merecida e faz jus a tudo que ela fez por esse lugar. E para que essa memória não se apagasse, em 11 de novembro de 1977, ano que marcava o centenário da chegada dela à comunidade, foi inaugurado um monumento em sua honra. A estátua de bronze em tamanho natural foi criada por Bruno Segalla e colocada no centro do bairro, exatamente no largo que fica em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora de Caravaggio. No dia da inauguração, os restos mortais de Anna foram trasladados do cemitério para o interior da igreja, onde permanecem até os dias de hoje.

 Além disso, em 2009 foi firmado um acordo de cidades irmãs entre Caxias do Sul e a localidade italiana de Pedavena, local onde Anna nasceu, o que permite a realização de ações de cooperação econômica entre as duas cidades. Também tramita no Senado Federal um Projeto de Lei (PL) 6306/2019 que busca tornar Anna Rech a patrona da hotelaria brasileira.

Confira vídeo de Anna Maria Pauletti Rech  do Programa Páginas

Mais informações


 

MONUMENTO À ANNA RECH – HISTÓRICO 

Por Valter Antonio Susin

 

Assumi a Sub prefeitura de Ana Rech de janeiro de 1973 a dezembro de 1976, por indicação do Prefeito eleito Mário Bernardino Ramos.

Durante meu mandato como sub prefeito, demonstrei interesse em trabalhar e atender as necessidades da vila, dando resposta a todos os pedidos e reivindicações apresentadas. Dei atenção também sobre a parte histórica da vila, desde a chegada de nossa fundadora Anna Maria Pauletti Rech até os dias presentes.

Lendo os depoimentos do saudoso Pe. Antonio Tomiello, sobre a história de Ana Rech, chamou-me a atenção a parte que falava o porque de nossa vila se chamar Ana Rech. Na oportunidade poucos anarrequenses sabiam o início da história. De início, para dar conhecimento à população, confeccionei um pequeno quadro que ainda hoje (abril de 2020) se encontra na Subprefeitura. Neste quadro constam duas fotografias de Anna Rech: Uma sozinha, a tradicional, em que ela aparece com um terço na mão. Outra do tempo dos Monges Camaldolenses, aparecendo Anna Rech numa composição junto a uma paisagem em que aparece a Igreja Matriz em construção e o Mosteiro Santíssima Trindade.

  Abaixo das fotos o seguinte texto: “Anna Rech (Anna Maria Paueltti Rech) nasceu em 01 de outubro de 1828, na Itália, lugar denominado Pedavena, Província de Belluno. Era viúva de Osvaldo Rech. Aqui chegou, em abril de 1877, com seus sete filhos: Ângelo, Teresa, Líbera, Giuseppe, Vittore, Maria Giovanna, Giovanni, e irmã Teresa. Atualmente vivem, em Ana Rech, netos e bisnetos da Fundadora.

Os tropeiros de Cima da Serra que se dirigiam ao Campo dos Bugres – Caxias do Sul, marcavam ponto de parada nos galpões da prestativa imigrante.

De tanto as pessoas falarem: “Vamos pousar na Anna Rech; vamos parar, negociar na Anna Rech, ficou o nome de Ana Rech a este lugar.

Anna Rech  faleceu em 16 de maio de 1916 e seus restos mortais foram sepultados na Capela do Cemitério local desta localidade. Data: fevereiro de 1973”.

Nos contatos com os anarrequenses pelo início do ano de 1974, falei em diversas ocasiões, que, dentro das possibilidades, teria interesse em erguer um monumento a Anna Rech: uma estátua da fundadora, em tamanho natural, ou até mesmo um busto em bronze, para eternizar aquela que deixou seu próprio nome à nossa localidade.

Naquela oportunidade, o Professor Mário Gardelin, tomando conhecimento de nossa idéia, escreveu um artigo para o jornal Correio do Povo de Porto Alegre, publicado no dia 18.06.1974 com o seguinte teor:

 

MONUMENTO À ANNA RECH

“A comunidade do distrito de Ana Rech pertencente ao município de Caxias do Sul, planeja erguer um monumento a sua titular a fundadora. A idéia, patrocinada pelas personalidades de maior relevo na vila, encontrou imediata aceitação popular e já foram tomadas as primeiras providências. Um monumento condigno à memória daquela que, em 1877, aqui chegou, armada de fé e de coragem, é desejo antigo, mas só agora vai tornar-se realidade, muito embora o assunto tenha sido levantado muitas vezes no passado. Ocorre que Ana Rech, ou melhor Anna Rech (era assim que ela escrevia o seu nome) deixou a mais calorosa e amável recordação, pela sua família, pelas suas virtudes e pelos serviços que prestou a toda a colônia que aí existia.

Era uma mulher de coragem estóica. Nasceu em Pedavena, em Feltre, Itália, na mesma localidade onde hoje existe uma das maiores cervejarias. Em 1877, quando a localidade a que daria seu nome, deixou após si uma região traumatizada, onde não havia perspectiva de futuro e uma população inalamente laboriosa tinha que contentar-se com uma vida que, para o futuro, apenas apresentava uma rotina de sacrifícios, sem compensações. Resolveu emigrar e partiu para o além-oceano, levando consigo os filhos e uma irmã. Quando aportou no Campo dos Bugres junto a outras famílias, ela tinha 48 anos de idade. O filho mais velho era Ângelo, com 26 anos, o que significa que Ana Rech casara com 21 e o caçula, Giovanni, 13. Era viúva há muitos anos. Ao deixar Feltre para o navio, contam os que viajavam com ela, um dos filhos, certamente Giovanni, caiu do trem em marcha, com grande terror dos demais. Felizmente ao anoitecer em Genova, lá estava ele são e salvo, embora ainda trêmulo de medo. Chegando ao Campo dos Bugres, Ana Rech foi destinada a 8ª Légua, no lote rural 104 do Travessão Dona Leopoldina, onde hoje assenta a vila que levou seu nome. À frente do lote passou um picadão, aberta entre o Campo dos Bugres e Cima da Serra, transformando-se em via de acesso a Trânsito de mercadorias. O picadão partia da então rua Silveira Martins, denominação trocada para Júlio de Castilhos posteriormente e chamou-se entrada “Conselheiro Dantas”. Foi inaugurada oficialmente em 27 de maio de 1883. “O lote rústico de Ana Rech, além de estar com sua frente para a referida estrada geral, era um sítio com ótimas aguadas e boas pastagens”. Aí, os tropeiros de Cima da Serra faziam suas sestas ou pousavam, e para isso Ana Rech construíra uma ampla casa, com cômodos e estrebarias. Os tropeiros interrogavam-se mutuamente: “Onde vais pousar?” “Lá na Ana Rech” e foi assim que o nome da Feltrina se tornou designação de uma localidade que logo se pôs a crescer não só pela vinda de mais colonos, como ainda pela instalação de casas comerciais, serrarias, ferrarias, etc. Os colonos da redondeza também iam aos domingos à pequena povoação, especialmente para comprar queijo, que adoravam, comer com suas polentinhas.

Adquiriram aí também cavalos, vacas leiteiras e para carnear. Anna Rech, muitas vezes, nos dias de semana, servia de intermediária: os colonos deixavam em suas mãos as quantias necessárias e os “tropeiros” traziam queijo e animais para venda. E assim, o seu albergue se transformou numa intermediação de serviços, que não lhe acrescia rendas, mas apenas proporcionava oportunidade de ser útil a todos.

Era uma senhora cheia de bondade e espírito religioso. As festas de Nossa Senhora de Caravaggio deixavam-na inquieta e sua paixão era ajudar na decoração da humilde igrejinha. Um dia à porta de sua casa, apareceu uma enjeitadinha. Era uma menina preta (muito mais do que o carvão, dizia ela) e ela cuidou da criança, tendo, porém relatado o fato ao diretor e engenheiro chefe da Colônia João Maria de Almeida Portugal, que a convenceu a criar a menina, ajudando-a com algum auxílio. Isso se depreende do ofício de 5 de dezembro de 1881. Fazia apenas quatro anos que ela chegara à 8ª Légua e se não faltavam a polenta e o queijo e os belos papagaios, que davam proteínas, a pobreza ainda era desconcertante... O Diretor da Colônia diz que ela cuidava da negrinha “com todo desvelo”, e que é testemunhado pela tradição oral, pois Ana Rech via naquele ser tão diferente e indefeso “una creatureta di Dio”,  (Uma criaturzinha de Deus).

Sua dívida com a fazenda imperial ia a 851$506, assim descriminados: 20% na forma do artigo 6º do Regulamento  de 1867, 53$051; rações de víveres, 450$000; casa provisória, 70$000; ferramenta, 9$800; transporte 3$400.

Quando chegou ao Campo dos Bugres, (abril de 1877) tinha os seguintes acompanhantes: os filhos Ângelo (*06.09.1850)  26 anos; Teresa (*28.03.1853) 24 anos - surda-muda; Líbera (*05.07.1856) 20 anos - deficiente física e mental; Giuseppe (José) (*03.10.1858) 18 anos - solteiro; Vittore (Vitor) (*26.05.1861) 15 anos - dificuldade no falar, cantava bem; Maria Giovanna - Joanna  (*22.06.1863) 13 anos; Giovanni (João) (*15.05.1865) 11 anos - esperto e inteligente; e a irmã Teresa (*28.03.1853) 24 anos.  (NOTA: Os dados dos filhos, foram colhidos do livro do professor  Giuseppe Corso de Pedavena,  intitulado “Ana Rech di Pedavena”, na página central).

 Deles há numerosa descendência e as filhas casaram com rapazes dos Campos de Cima da Serra, devendo ser um dos primeiros casamentos entre italianos e brasileiros.

Faleceu com quase noventa anos. Há uma fotografia clássica, em que aparece de rosário na mão, um lenço solto sobre a cabeça, sapatos e meias pretas; rosto forte e sulcado de rugas, em que sobressai um olhar meigo e resignado. Foi sepultada logo a entrada do pequeno Cemitério da vila e a lápide a chamava de “La fondatrice” (a fundadora). Seus ossos repousam hoje em lugar de honra na capela comunitária.

O monumento paga uma dívida, proclama a benemerência dessa mulher e embeleza a encantadora vila. Erguê-lo e colaborar nele é participar de uma cruzada afetiva”.

(Nota: Os restos mortais de Anna Rech, foram transladados para a Igreja Matriz de Ana Rech, por ocasião da inauguração do monumento, em data de 11 de dezembro de 1977 e por consentimento do Bispo Dom Benedito Zorzi, foram colocados na entrada da torre do lado direito da Igreja).

No dia 08 de julho de 1974, às 20 horas, numa das salas do Colégio Murialdo em Ana Rech, realizou-se uma reunião com o fim especial da ereção na praça da vila, do monumento à fundadora Anna Rech, assim como da reformulação da Praça Rio Branco.

A seguir transcrevemos a ata redigida em livro próprio:

“Aos oito dias do mês de julho de  mil novecentos e setenta e quatro, às 20 horas, numa das salas do Colégio Murialdo, em Ana Rech, com a presença do Sr. Fernando Pancich, Diretor do Serviço Municipal de Turismo; do Engenheiro Agrônomo Antonio Silvino Perazzolo, Secretário Municipal da Agricultura; Valter Antonio Susin sub-prefeito do distrito; Pe. Gervásio Mazurana, Vigário da Paróquia de Nª Sª de Caravaggio; Pe. José J. Lorencini Diretor do Colégio Murialdo; Cláudio Klering, Escrivão Distrital; Belarmino Lamberty, Presidente do Clube Atlético União e mais os senhores representantes da localidade: Silvino Brambatti, Ari Albé, Luiz Boff, Presidente da Sociedade Comunitária Paróquia de Ana Rech, Pe. Miguel Modelski, Ademar Bacchi, Eloi Zago, Jacob João Basso, Camilo Dal Piaz, Acelio Reck e Nadir Camazzola, realizou-se uma reunião com o fim especial da ereção na praça da vila, do monumento à fundadora Ana Rech, assim como da reformulação da Praça Rio Branco, local onde será localizado o Monumento.

Organizou-se uma Comissão Especial que terá a incumbência de manter um contato com o Sr. Prefeito Municipal, para acertar detalhes da homenagem de gratidão que o povo anarrequense e Prefeitura Municipal, em conjunto, irão prestar à pioneira Anna Rech, assim também em organizar a campanha que será desenvolvida junto à população de Ana Rech, para conseguir parte dos recursos financeiros.

A Comissão ficou assim constituída:  Presidente: Pe. José J. Lorencini / Secretário: Valter Antonio Susin / Tesoureiro: Belarmino Lamberty / Colaboradores: Ari Albé, Camilo Dal Piaz, Ademar Bacchi

O encontro entre o Sr. Prefeito Municipal e a Comissão, será feito, possivelmente numa reunião-janta, no Bela Vista Hotel, com data a ser marcada posteriormente.

Nada mais havendo a tratar sobre o assunto, foi lavrada a presente ata que vai assinada pelos presentes.

                        Ana Rech, 08 de julho de 1974.

Assinam: Valter Antonio Susin, Pe. José J. Lorencini, Belarmino Lamberty, Ary Albe, Ademar João Bacchi, Camilo Dal Piaz”.

 

Após os quatro anos de sub prefeito, deixando a sub prefeitura assumi uma cadeira na Câmara de Vereadores, já que fui eleito com 995 votos, no  pleito eleitoral de outubro de 1976, pelo partido da Arena, para um mandato de quatro anos. Meu primeiro mandato de vereador foi por 6 (seis), pois houve prorrogação por mais dois anos.

Em todos os finais de tarde, no bar junto ao Restaurante das Camélias,  algumas pessoas se reuniam para tomar um aperitivo, conversar,  jogar canastra. Num certo dia, início do ano de 1977 o assunto é direcionado sobre a história da imigrante Anna Rech. Um dos presentes, num determinado momento, assim falou: “O Valter também, às vezes conversa muito e não cumpre o que promete. Falou que iria erguer um monumento a Anna Rech, mas até agora, nada”. Enor Watha, proprietário do Bar, me deixou a par desta conversa. No mesmo instante respondi: “Este fulano falou assim? Então vamos ver se este monumento sai ou não sai do papel”. Levei o assunto a sério. Após algumas semanas, convidei lideranças da vila,  para uma reunião e tentar  reativar a comissão eleita em julho de 1974, para esta finalidade. Vários encontros e reuniões  foram realizados. Não foi fácil levar a idéia à frente. Havia muita resistência por parte de algumas pessoas, pois os custos seriam altos.

E como fazer para levantar a quantia necessária para erguer o monumento? Quem faria a escultura? Onde fundir a estátua em bronze? (A Metalúrgica Abramo Eberle já não trabalhava mais no ramo de fundição em bronze). Realizar uma rifa de um carro? Quem venderia as cautelas? O desafio estava lançado.

Em contato em Porto Alegre com o ex-prefeito de Caxias, Dr. Mário Bernardino Ramos, agora Secretário Estadual de Turismo,  prometeu nos ajudar.

 

Em outras reuniões realizadas, outras idéias surgiram. A opção mais viável, achou-se em apresentar um Livro Ouro, para doações espontâneas de empresas e pessoas interessadas em colaborar com esta finalidade. Iniciou-se as visitas às empresas.

A primeira doação registrada no Livro Ouro, foi da Madeireira Dois Irmãos no valor de Cr$ 10.000,00 no dia 24 de novembro de 1977.

Batemos de porta em porta. Várias visitas foram feitas. Muitas vezes tivemos que retornar devido a ausência dos Diretores. Mas o trabalho foi feito e todos os que visitamos colaboraram.

Além das empresas, tivemos a colaboração de muitos anarrequenses.  (Os valores estão registrados nos dois Livros de Ouro que estão guardados com Valter Susin).

Mantivemos novamente contato com o Sr. Mário Bernardino Ramos, Secretário Estadual de Turismo em Porto Alegre. Neste contato, como ele já  tínhamos falado em outras ocasiões,  renovou o compromisso de ajudar financeiramente. De fato recebemos do Governo do Estrado, por determinação dele, a quantia de Cr$ 96.000,00 (noventa e seis mil cruzados). Esta doação também está registrado no Livro Ouro.

Iniciadas as visitas de arrecadação de fundos com o Livro Ouro, iniciamos também as conversações com o escultor Bruno Segalla e acertamos os valores para a modelagem da estátua. O trabalho foi iniciado pelo mês de setembro de 1977, na Rua Borges de Medeiros, nº 819 – fundos, antiga residência de Bruno Segalla.  Devemos parabenizar o artista Bruno pela obra que executou, sendo muito feliz em deixar Anna Rech, idêntica de como aparece na tradicional foto da fundadora.

Numa da visitas feita por mim ao escultor Bruno, e a estátua em argila já praticamente pronta, ele me solicitou que eu colocasse meus dedos da mão direita junto a estátua. Coloquei o dedo indicador e o médio juntos e fiz um leve movimento na argila ainda úmida, da direita para à esquerda, ficando os meus dedos marcados nas vestes da estátua, do lado esquerdo, a uns 20 centímetros de altura do pedestal.

Acervo pessoal Valter Susin / Divulgação

Acervo pessoal Valter Susin / Divulgação

Concluído o modelo, foi entregue à empresa Metalúrgica Tomé, para os trabalhos de fundição. Nesta mesma época, tiveram início a fundição das portas da Igreja de São Pelegrino, pelo modelador uruguaio Miguel Angel Laborde, contratado pelo Pe. Eugênio Giordani, para tal fim. Entramos em contanto com o Pe. Giordani, com o modelador e com os Diretores da Empresa para que houvesse o consentimento da parte deles. Aceitaram nosso pedido e de imediato foram iniciados os trabalhos, pois pretendíamos inaugurar a estátua dentro do ano de 1977. Assim foi possível fundir a estátua; caso contrário o trabalho deveria ser feito em São Paulo.

A estátua modelo em gesso, que serviu de modelo para a de bronze, Bruno Segalla, deu de presente para mim, Valter Susin. Achei por bem que eu não deveria ficar com a estátua, pois nem teria local para guardá-la. O Diretor do Murialdo, Pe. José Lorencini aceitou em deixá-la junto ao Museu do Colégio, no último andar do prédio. No dia 11 de abril de 2012 a pedido do Instituto Bruno Segalla foi transportada para  Caxias do Sul. Finalidade: Uma amostra de todas as obras do escultor. Ela está lá neste Instituto, por empréstimo.  Na ocasião que o colégio achar por bem que ela deva voltar para Ana Rech, a estátua voltará. Existe um documento assinado por ambas as partes, Colégio Murialdo e Instituto Bruno Segalla, em duas vias com assinatura de testemunhas, esclarecendo o empréstimo. (Ver devolução no final deste histórico).

A festa de inauguração foi marcada para o dia 11 de dezembro de 1977, dentro do ano do Centenário da chegada da fundadora em nossa localidade, tomando posse do Lote nº 104 da 8ª Légua de Caxias do Sul, em abril de 1877.

No sábado pela manhã, dia 10 de dezembro, véspera da inauguração, Pe. José Lorencini, conduzindo o caminhão Mercedes do Colégio Murialdo, esteve na Metalúrgica Thomé para fazer o transporte da estátua da empresa para o pedestal do monumento em frente à Igreja Matriz. Pe. José convidou para ajudar no transporte, dois alunos do Curso Colegial Agrícola, João Paulo Marcon e Sérgio Cambruzzi, que juntamente com Valter Antonio Susin e alguns funcionários da Metalúrgica, ajudaram a colocar a estátua no Mercedes e levá-la até o pedestal. A estátua foi coberta com um pano azul até a hora da inauguração.

No dia marcado, 11 de dezembro, as solenidades tiveram  início no Cemitério local, onde os restos mortais da Anna Rech, foram colocados numa urna especialmente confeccionada para esta finalidade. Sobre a urna as bandeiras do Brasil e da Itália. Ao som de músicas selecionadas para o ato, iniciou-se o translado do Cemitério para a Igreja Matriz, num momento de muita emoção e comoção. A urna estava sendo carregada pelos netos: João Rech, Antonio Rech, Ana Rech Zanetti e Joana Rech Molin, e foi depositada, à entrada da torre do lado direito da Igreja Matriz. O Bispo Diocesano Dom Benedito Zorzi sugeriu e autorizou para que os restos mortais da fundadora, fossem colocados onde hoje se encontram.

Antes da reposição da urna, no local escolhido, o Pároco leu a seguinte provisão do Bispo Diocesano:

“Dom Bendito Zorzi, Por Mercê de Deus e da Sé Apostólica, Bispo de Caxias do Sul.

Aos que esta Previsão, virem, saúde, paz e benção de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Atendendo ao que requereu o Revmo. Pároco da Freguezia de Nossa Senhora de Caravaggio de Ana Rech, havemos por bem permitir que os restos mortais da fundadora do lugar denominado com seu nome “Ana Rech”, sejam inumados em uma das Torres da Igreja Matriz local, para perpétua memória daquela em sua vida foi cristã fervorosa, mãe de grande prole, modelo de viúva, dedicada ao serviço de Deus e dos irmãos.

Dada e passada em nossa Sede Episcopal, sob o Nosso Sinal e Sêlo de Nossas Armas, a 08 de dezembro de 1977.

                                               D. Benedito Zorzi, Bispo de Caxias do Sul /  Pe. Antoni Pasa, Secretário Geral do Bispado”

 

Com a igreja Matriz, repleta de parentes, autoridades, amigos de Ana Rech, seguiu-se as festividades, com a entrega de um artístico quadro da Fundadora, oferecido pela UCS, Universidade de Caxias do Sul, pintado pela professora Waldira Dankwardt, a pedido do Vereador Professor Mário Gardelin.

Após foi celebrada a Missa do Imigrante, oficiada pelos Padres Gervásio Mazurana, Pároco; Pe. José Lorencini, Diretor do Colégio Murialdo e Pe. Alcides Rech. O altar estava ladeado pelos seis netos de Anna Rech: Joana Rech Molin de 86 anos, residente em Marau; Ana Rech Dal Pont de 83 anos, residente  em Caxias do Sul; Ana Rech Zanetti de 83 anos residente em Ana Rech; João Rech de 73 anos, residente em Caxias do Sul; Antonio Rech de 71 anos residente em Concórdia, SC.; Dosolina Rech Peletti de 70 anos, residente em Passo Fundo. Inúmeros bisnetos de famílias de Ana Rech, Caxias do Sul e de outras cidades, muitos anarrequenses, amigos e autoridades.

Familiares de Anna Rech presentes na inauguração do monumento. Acervo pessoal Valter Susin / Divulgação

Após a missa, pelas 11 horas, deu-se início a solene inauguração do monumento e placa comemorativa, ao espocar de foguetes, aplausos e o toque dos sinos da Matriz. Estavam presentes: Os sacerdotes acima mencionados. Mais: Dr. Mansueto de Castro Serafini Filho, Prefeito Municipal; Dr. Mário Bernardino Ramos, Secretário de Turismo do Estado; Sub Prefeito de Ana Rech, Sr. Pedro Olavo Hoffmann; Dr. Mário David Vanin, ex Prefeito Municipal; o Pároco, Pe. Gervásio Mazurana; Vereadores: Mário Gardelin, Marcial Pizoni e Valter Antonio Susin;  Prof. Abrelino Vicente Vazatta, Reitor da Universidade de Caxias do Sul; Sr. Flávio Ioppi, Secretário Municipal de Turismo de Caxias do Sul; o escultor da estátua Bruno Segalla; a cantora Fafá de Belém;  a Comissão do Monumento, os netos, bisnetos e descendentes de Anna Rech, e grande número de anarrequenses.

Falaram na ocasião pela ordem: Pe. José Lorencini pela Comissão do Monumento e da comunidade; Prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho; Mário Bernardino Ramos, representando o governador Sinval Guazzeli.

Ao meio dia no Salão Paroquial, almoço de confraternização, oferecido às autoridades e convidados.

A festa foi linda e emocionante. O tempo foi passando.

Após alguns anos, pessoas começaram a criticar que a estátua foi colocada no lugar de Nossa Senhora Imaculada e esta, foi transferida para outro local, deixada em segundo plano, ao lado direito da praça. Outros falavam que a estátua de Anna Rech deveria ser colocada na praça Rio Branco, hoje denominada Pedavena.

Sobre estes dois assuntos levantados, queremos esclarecer para as gerações futuras o seguinte:

Em primeiro lugar a estátua de Anna Rech, não foi colocada na Praça da Matriz, porque o poder público municipal, na pessoa do Prefeito Dr. Mansueto Serafini Filho, não contribuiu com nenhum valor para a ereção do monumento. E se ela está em frente à Igreja, o patrimônio pertence à nossa paróquia, portanto a todos os paroquianos. Se estivesse na praça pública, pertenceria à Prefeitura.

Segundo lugar: Para determinar o local onde hoje ela está, a Comissão do Monumento convidou o Bispo Diocesano, Dom Benedito Zorzi, que concordou em colocá-la na Praça da Igreja e juntamente com o Pároco Pe. Gervásio e a comissão, determinaram o local onde hoje ele se encontra. E quem determinou o local, foi o próprio Bispo, com a concordância de todos os demais presentes. Assim se expressou o Bispo na oportunidade: “A estátua de Anna Rech, pode ser colocada neste lugar; e a estátua de Nossa Senhora, aí ao lado e mais abaixo, construir uma bela gruta”. (Para que fique esclarecido: A Comissão do Monumento, após a palavra do Bispo, não se comprometeu em construir a gruta).

 

Em 2012 o Instituto Bruno Segalla realizou uma amostra das obras do escultor Bruno. Como a estátua em gesso (modelo) estava no museu do Colégio Murialdo, vieram falar comigo para que emprestássemos o modelo para a exposição. Falamos com o diretor do Colégio Murialdo na época Pe. Raimundo Pauletti e concordamos em emprestá-la, com a condição que ela votaria na hora que fosse solicitado. Assim no dia 11 de abril de 2012 foi feito o transporte para o Instituto. Com a construção em andamento da Villa dei Troni e com o consentimento do diretor do Colégio Murialdo, Pe. Geraldo Boniatti foi determinado que iriamos solicitar a devolução da estátua e colocá-la na Villa dei Troni. Valter iniciou os contatos e as tratativas com os responsáveis do Instituto Bruno Segalla e no dia 22 de fevereiro de 2022 a estátua voltou sendo colocada no seu novo destino, a Villa dei Troni.

De início a estátua não foi muito valorizada por alguns  anarrequenses. Mas hoje certamente temos um monumento de grande valor histórico, cultural e sentimental.

Com este monumento, estamos homenageando a figura de nossa fundadora, uma senhora imigrante, simples, bondosa, caridosa, de muita fibra, que saindo de Pedavena, Feltre, Itália, aqui chegou para desbravar a 8ª Légua e dar início a nossa localidade, que hoje possui uma história que muito nos orgulha.

Ana Rech, deve ser a única vila, no Brasil,  que leva o nome de uma imigrante italiana, mulher. Conhecemos a cidade de Anita Garibaldi em Santa Catarina, mas ela não é considerada imigrante.

 

Família de Ana Rech

O filho Ângelo era carpinteiro

Maria Giovanna casou-se com Antunes Custódio da Silva. Um dos primeiros casamentos entre italianos e brasileiros. Morou  em Vila Seca. Faleceu com 100 anos, em 1955.

Libera, sempre solteira. Morou com o irmão Vitório em Fazenda Souza e mais tarde em Ana Rech, numa casa que existia na rua Pe. Gerônimo Rossi esquina com Silvia Faccioli no lote, hoje, de Jardelino Rossi. Faleceu pelo ano de 1935.

José, solteiro, tropeiro. Faleceu antes de sua mãe, portanto antes de 1916. A morte foi provocada por um coice de mula.

Ana Rech era parteira. Atendia a qualquer hora e se a família fosse pobre não cobrava nada. Se tivesse posse, cobrava, então 5$000 (cinco mil reis). Era rica em bondade; doou o terreno para o cemitério, o terreno para o Convento das Irmãs, que hoje á a Clínica Prof. Paulo Guedes. Vendeu a baixo preço o terreno para o Convento dos Monges Camaldolenses.

Ana Rech, morava numa casa de dois pisos. Tinha uma casa de comércio muito simples, onde comercializava:  rapaduras, cachaça, salames, queijos, pão, vinho e alguma coisa mais.

 

 

Porta de Bronze da Igreja São Plegrino

1º - Na porta central de bronze da Igreja de São Pelegrino, porta da direita, o escultor Augusto Murer, imortalizou a figura de Anna Rech, com um quadro, onde Anna Rech  aparece recebendo um tropeiro, na porta da hospedaria.  

Um escrito (Livro sobre o significado das portas) diz o seguinte: “Anna Rech representada no oitavo quadro identifica a fraternidade que surgiu entre os serranos (que representa os gaúchos) e os imigrantes”.

Numa gravação de Alvino Melquides Brugalli sobre a porta central, ele se expressa dizendo: “O oitavo quadro é complementado com a figura de Anna Rech, em seu famoso pouso, um dos primeiros centros de assistência e de reencontro dos nossos colonos, dos serranos, dos lusos brasileiro, com quem nossa gente haveria de se confraternizar”.

2º - O desenrolar do Gemellaggio entre Pedavena e Ana Rech, teve início, por ocasião em que a obra (modelo em gesso) foi exposta no Castel Santo Angelo, em Roma pelo autor Augusto Murer. Dona Clelia Zuliano Luppis, Presidente da Associação Itália -Brasil, residente em Roma, foi visitar no dia 13 de abril de 1985 e soube do autor, que num dos quadros aparecia a figura de Anna Rech. (mais detalhes no histórico do Gemellaggio)

Ana Rech, 22 de fevereiro de 2022.

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Fonte: Livro Povo de Ana Rech e depoimento de moradores.

MONUMENTO À ANNA RECH – HISTÓRICO: Informações escrita e disponibilizadas por Valter Antonio Susin

Fotos: Marivania Sartoretto

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