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Gemellaggio entre Pedavena e Ana Rech

Gemellaggio entre Pedavena e Ana Rech

Gemellaggio entre Pedavena e Ana Rech

Gemellaggio entre Pedavena e Ana Rech

A imigrante italiana Anna Maria Pauletti Rech faleceu em 16 de maio de 1916, porém, o seu legado seguiu ajudando a localidade que recebeu seu nome. Em 1985, ou seja, 69 anos após a morte de Anna, um encontro despretensioso que aconteceu na Itália deu início a uma linda e próspera parceria. Clélia Zuliani Luppis decidiu ir a uma exposição do artista Augusto Murer sobre a imigração italiana no Brasil, no Castel Sant’Angelo, em Roma, cidade onde morava.

 
Foto da porta da Igreja de São Pelegrino. Acervo da Igreja São Pelegrino. Na sequência foto de Clélia Zuliani Luppis. Foto Volga Foto Studio

Entre os trabalhos expostos, um lhe despertou especial atenção. Tratava-se da porta a Igreja de São Pelegrino, que continha, em um dos seus quadros, a imagem de uma mulher imigrante. O desenho havia sido encomendado pelo Pároco da Igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul, Pe. Eugenio Giordani, e o artista decidiu inclui-lo na mostra que fazia em Roma. Interessada especificamente naquele trabalho, Clélia foi conversar com Murer, que lhe contou que tratava-se de uma imigrante de Pedavena que havia feito tanto em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, que a localidade tinha recebido o seu nome. Ele falava, é claro, de Anna Maria Pauletti Rech. Em um relato sobre aquele dia, Clélia registrou:

"Dentre os desenhos, um deles tocou-me de modo particular. Representava uma mulher na soleira de sua cabana, no instante em que oferecia um pão a um senhor idoso. O ancião estava representado com o corpo curvado, com aspecto cansado, o braço estendido para receber a dádiva. Não esquecerei a emoção que senti, era tão forte e tão espontânea de não poder explicá-la. O escultor deu-se conta e explicou-me que, com aquele esboço, queria prestar uma homenagem a uma emigrante vêneta da área feltrina: Anna Rech, uma viúva com sete filhos, que partiu dentre os primeiros com destino para o Brasil.Anna tinha sido uma pioneira, tinha lutado como todos por uma dura sobrevivência, mas, sobretudo, tinha sido de encorajamento e de conforto para com os outros. Agora, acrescentou o escultor, lá onde surgiu a cabana daquela mulher, existe uma localidade que tem o seu nome.”

Esse foi o ponto de partida para uma longa pesquisa feita por Clélia em busca de mais informações sobre essa história. Depois de muitos livros e conversas com pessoas, inclusive daqui, ela decidiu que cruzaria o Atlântico e conheceria Ana Rech. Chegou em 1995 e conheceu diversas pessoas, entre elas, Valter Susin, Mario Gardelin e o padre João Leonir Dall’Alba, ambos citados no seu relato. Esse foi apenas o primeiro de outros encontros que culminaram com o Gemellaggio (pacto de cidades-irmãs) entre Ana Rech e Pedavena.

Sobre essas primeiras conversas, Susin conta que, em 1986, foi surpreendido por um telefonema de um professor de Porto Alegre solicitando informações e fotos a respeito de Anna Maria Pauletti Rech a pedido de uma pessoa residente em Roma. Logicamente, era Clélia. Susin levou documentos e fotos para o professor em uma das suas idas à capital gaúcha e seguiu sua vida por aqui. Em 1995, teve uma nova surpresa. Dessa vez, quem telefonava era Gardelin, informando que estava com um senhora que havia vindo de Roma e gostaria de conhecer Ana Rech. Ao ser questionado se poderia acompanhá-los, Susin aceitou e, horas depois, recebeuClélia e uma amiga italiana, Carla Martella Cingolani. Era dezembro e o grupo foi visitar os presépios e lugares como a Igreja Matriz Nossa Senhora de Caravaggio, a subprefeitura, o monumento de Anna Maria Pauletti Rech, os colégios e o Museu de São Braz, entre outros. Carla, que era fotógrafa, registrava tudo.

 Clélia Zuliani Luppis em visita a Ana Rech. Foto acervo Valter Susin 

Durante as conversas no trajeto, Clélia disse que um professor de Porto Alegre havia enviado um material obtido com uma pessoa da comunidade e perguntou se Susin sabia quem era. Para surpresa dela, havia sido ele mesmo. Naquele momento, começou uma amizade que se estenderia para sempre. Clélia voltou muitas vezes a Ana Rech, costumava passar férias por aqui e foi fundamental para que o Gemellaggio fosse firmado. Depois de todo o processo encaminhado, a assinatura aconteceu em dois momentos. O primeiro foi em Pedavena, em 2007. Uma comitiva de Caxias do Sul viajou para a Itália para formalizar o pacto de amizade e ficou por lá de 22 a 30 de maio daquele ano.

No último dia, aconteceu um momento que ficaria marcado na história. Por meio do Monsenhor Osvaldo Neves Almeida, um brasileiro que era seu amigo e trabalhava no Vaticano, Clélia conseguiu que Ana Rech fosse citada pelo Papa Bento XVI na audiência pública promovida na Praça São Pedro. As palavras dele foram: “A minha saudação a todos os peregrinos da língua portuguesa, de modo especial aos brasileiros da cidade Ana Rech, no Rio Grande do Sul, conhecida também pelo nome de “Vila dos Presépios”, devido à ressonância que dela emana este símbolo natalício em honra de Deus humanado. Com sua vinda, a nossa pobre humanidade tornou-se morada da Santíssima Trindade. Por Ela, sejam abençoadas as vossas famílias e comunidades com o dom da unidade e da vida plena, na solidariedade e na paz”.

 

Audiência pública promovida na Praça São Pedro em Roma. Foto Acervo Valter Susin fornececida pelo Vaticano.

 Os movimentos na Itália incluíram também a construção de uma escola em Pedavena que recebeu o nome de Anna Rech. Já aqui, a praça central da localidade teve seu nome alterado para Pedavena. A confirmação do pacto aconteceu com o segundo momento de assinatura, agora no Brasil, em 2009. De 27 de novembro a 4 de dezembro daquele ano, uma comitiva de Pedavena esteve em Caxias do Sul e participou das cerimônias. Um dos momentos emocionantes foi a recepção, no Aeroporto Hugo Cantergiani, por crianças que portavam bandeirinhas da Itália e cantavam “Mérica, Mérica”.

 Da chegada, se seguiu uma longa programação durante o tempo em que pessoas da Itália estiveram por aqui. Um dos pontos altos, é claro, foi a assinatura do Gemellagio, oficializado na Lei Nº 7.036, de 26 de novembro de 2009, que declara Caxias do Sul (Ana Rech) e Pedavena como cidades irmãs. Essa segunda assinatura confirmou o pacto de amizade que havia sido firmado em 2007 e deu início ao a um percurso de conhecimento recíproco nas áreas de políticas institucionais e econômicas, de intercâmbios socioculturais e de outros temas de interesse comum.

A prefeita de Pedavena, Maria Tereza de Bortoli, veio acompanhada pelo assessor Vittore de Bortoli, pelos vereadores Franco Zaetta, Maurizio Gris, Laura Cappellari e Bertelle Giuseppe; pelo diretor da empresa Birra Pedavena, Gianni Pasa, pela fotógrafa Carla Martella e pelo jornalista Ivan Perotto. Após a cerimônia de assinatura, a comitiva visitou o Residencial Pedavena e a construtora Neolar.

 

Reprodução documento assinatura gemellagio em Caxias do Sul  em 26 de novembro de 2009

É importante ressaltar que o gemellagio é um pacto vivo, que não se encerra com a programação que acompanha as assinaturas. Várias iniciativas já foram postas em prática desde que as cidades se tornaram irmãs, e a intenção é que as colaborações sigam acontecendo de forma recorrente. Confira na lista abaixo alguns momentos que valem serem destacados:

22 de julho a 01 de agosto de 2010 - Grupo de jovens de Ana Rech visita Pedavena. Visita do coro Oio de Santa Giustina - Belluno

24 de fevereiro a 3 de março de 2012 - Visita de Salvatore Liotta e Bruno Scariot

19 a 25 de abril de 2012 - Visita do professor Tiziano Dal Pont

22 de abril a 04 de maio de 2012 - Visita de Dona Clélia Zuliani Luppis e de Carla Martella Cingolani

23 e 24 de agosto de  2012 - Visita de italianos

07 de novembro de 2013 - Visita dos casais José e Joana Amaral e José Paulo e Lourdes Molin a Padavena

26 de fevereiro a 14 de março de 2014 - Visita do professor Tiziano Dal Pont

14 e 15 de agosto de 2015 - Visita de Bruno Scariot e dos casais Mario Roldo e Maria Comiotto e Silvano dal Cal e Roberta Bertoldin

22 e 23 de dezembro de 2015 - Visita de José Carlos Rech e família a Pedavena

17 de setembro a 17 de outubro de 2016 - Visita do professor Salvatore Liotta

21 de outubro de 2016 - Comitiva de Pedavena se encontra com o Governador Sartori no Aeroporto de Veneza

03 de novembro de 2017 - Comitiva de Pedavena em Ana Rech

Lançamento do livro do professor Salvatore Liotta - Visita dos italianos Tiziano Dal Pont, Mirco, Giuseppe Minella e Paolo Deliberali

15 a 17 de agosto de 2018 - Visita dos italianos Bruno Scariot, Marco Scariot, Paolo Deliberali e do casal Mário Roldo e Maria Comiotto

06 a 10 de fevereiro de 2019 - Visita do professor Tiziano Dal Pont. Lançamento do livro “Volte Logo - Torna Presto"

14 de dezembro 2019 - Visita da professora Vitalina Maria Frosi a Pedavena

Dias 18 a 20 novembro de 2022 - Comitiva de Pedavena e Seren Del Grappa visita Ana Rech

10 de maio de 2022 - Visita de Mário, Sueli Pradebon e família

18 de abril de  2023 - Visita de Vilmar e Marintonia Pedrotti

14 de outubro de 2023 - Visita a Pedavena - Marlei, Edma e Elio Zanette

20 de outubro de 2023 - Visita de João e Josete Reck Sfreddo

O Gemellaggio é um dos legados deixados por Clélia, que faleceu em 13 de agosto de 2023, com 99 anos de idade. No domingo seguinte, na Igreja Matriz de Ana Rech, foi rezada uma missa em sua memória. A sua partida, porém, não encerra o cumprimento dos objetivos do pacto: manter o intercâmbio cultural e social entre as duas comunidades e aprofundar laços de amizade, visitas e conhecimento das tradições. A comunidade de Ana Rech leva esse pacto a sério e o considera um marco na sua história. Que as visitas e a troca de informações sigam acontecendo!

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Depoimento: Valter Susin

Referêrencias:

Relatório PACTO DE AMIZADE (GEMELLAGGIO) PEDAVENA – ANA RECH - Autor Valter Susin