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Ana Rech - Vila dos Presépios

Ana Rech - Vila dos Presépios

Ana Rech - Vila dos Presépios

Encanto de Natal em Ana Rech em frete a Igreja Nª Sª Caravaggio - Foto Volga Studio

Entre os caxienses, se qualquer pessoa falar sobre presépios de Natal, imediatamente o pensamento irá para Ana Rech. São mais de 100 anos de uma tradição que teve seus momentos ciclos, com épocas mais fortes, outras menos, mas nunca se perdeu completamente. Até hoje, ao passear por lá durante as semanas que antecedem o Natal, o que se encontra são lindas obras artesanais que enfeitam as ruas e preparam o clima para o presépio vivo que acontece no Encanto de Natal.

Segundo Valter Susin, essa história começou com os padres Camaldulenses, que chegaram à localidade em 1899. Depois deles, vieram os Josefinos, que mantiveram a costume de montar os presépios na igreja, no pátio da escola e nas residências. Entre eles, estava o padre Eugênio Scattolin, que chegou na comunidade em 1946. Quando se aproximava o final de cada ano, ele trabalhava semanas e semanas para preparar o presépio da Igreja Matriz. Dedicado a fazer um trabalho melhor a cada ano, em 1975, decidiu levar o presépio para o antigo teatro do Colégio Murialdo, que tinha mais espaço. O lugar recebia um número grande de visitantes, e a disposição para fazer presépios foi crescendo.

No ano seguinte, o pároco da comunidade, Gervásio Mazurana, propôs que a comunidade montasse os seus presépios nas ruas, pátios e áreas externas de residências. A ideia foi bem aceita e, conforme Susin, na segunda metade da década de 1970, Ana Rech já acumulava mais de 20. Foi nessa época que nasceu um concurso para premiar os mais bonitos, o que incentivou ainda mais esse costume. O capricho era tanto, que a tradição foi se fortificando e acabou fazendo com que surgisse uma denominação para a localidade na época do Natal: Ana Rech - Vila dos Presépios.

Publicação Jornal Pioneiro 10 e 11 de dezembro de 1994

Além das cenas do nascimento de Cristo nas casas, as ruas foram decoradas e tudo passou a ganhar uma atmosfera ainda mais especial à noite, com iluminação especial. Com tradição no artesanato, a vila apostava nele para criar presépios com diversos materiais, inclusive troncos talhados e rolhas, entre outros materiais. Em alguns anos, no ápice desse costume, Ana Rech chegou a ter mais de 70 presépios montados.

Tudo isso evoluiu para um evento muito especial o Encanto de Natal, que começou na década de 1990. A encenação do presépio vivo, em frente à Igreja Matriz, leva movimento e emoção para esse momento tão importante para o a religião católica. Corais com muitas vozes, esquetes e outras manifestações culturais culminaram em um evento que foi chamando atenção ano a ano e, é claro, atraindo cada vez mais público.

Divulgação do presépio vivo de Ana Rech - Foto Volga Studio

O sucesso foi tanto, que o Encanto de Natal acabou sendo tema de um trabalho acadêmico que procurou conhecer mais a fundo as pessoas que atraía. Conforme a autora, Maria Inez Argenta, a pesquisa procurou conhecer quem se deslocava até Ana Rech para ver os presépios. “Nos questionários aplicados procurou-se investigar dados sócio-demográficos, informações turísticas e, por solicitação da SAMAR, informações sobre a infraestrutura oferecida pelos organizadores do Encanto de Natal de Ana Rech aos visitantes. Foi aplicada uma pesquisa de campo, de caráter quantitativo, que envolve conceitos tanto da Ciência Econômica quanto do Turismo”, escreve ela.

O simples fato desse trabalho tratar dos visitantes já demonstra o impacto que essa tradição teve no turismo. Uma localidade que tem na sua história o início dos veraneios, ou seja, a atração de turistas, se destacou com os presépios e o artesanato. No decorrer dos anos, a representatividade dos presépios foi mudando.

 Em uma coluna na edição do Jornal Pioneiro de 14 de dezembro de 1995, a historiadora Tania Tonet falou um pouco sobre o simbolismo e a importância desse trabalho de Ana Rech com os presépios e o Encanto de Natal. Reproduzimos abaixo:

"O Encanto de Natal de Ana Rech recupera a importância do Presépio, socializando esse elemento, antes restrito ao grupo familiar e à Igreja. Retiram-no das quatro paredes, levando-o às ruas e permitindo-se múltiplas releituras desse simbolo profundamente religioso.
As formas tradicionais figuras de papelão e gesso, pedras, folhagens silvestres, a barba-de-pau, areia, serragem, farelo, grama, musgos, patinhos e peixinhos naturais ou representados por "bibelôs" sobre um espelho, cascas de ovos pintadas, papel chuviscado de tinta imitando pedras ou grutas - convivem com o vime, o xaxim, o plástico, a madeira, as lâmpadas, a trança de palha de trigo, o vidro, o acrílico. Elementos inusitados são monta-
dos harmonicamente, fazendo com que a criatividade proporcione um imenso cenário de sensibilidade e arte. Este exercício de transformar materiais e gerar formas movidas pela emoção tem um inestimável valor e Ana Rech nos ensina o acesso de todos a ele, independente de idade, sexo, posição econômica.
Os presépios de Ana Rech também resgatam o valor sociológico e antropológico da rua, extinto pela moderna urbanização. A rua passa a ser novamente ocal de passeio, encontro, conversas entre amigos. E mais, os Presépios coletivos deixam entrever valores de solidariedade, cooperação, construção coletiva.
Se nas quatro primeiras edições o Encanto de Natal necessitou do incentivo do concurso para ser realizado, sua quinta edição prova a maturidade alcançada por essa comunidade presépios são construidos com a consciência de quem simplesmente quer repartir sua alegria, seu trabalho, suas emoções.
Vale a pena circular pelas ruas de Ana Rech - em cada casa, em cada canto, uma mensagem de esperança de amor."

Coluna publicada pela Historiadora Tania Tonet no Jornal Pioneiro 14 de Dezembro de 1995

 

Outro ponto que merece ser destacado aconteceu em 1996 e foi registrado no jornal abaixo, publicado em 1997. Encantada com o que viu em Ana Rech no Natal de 1996, a presidente da Associação Itália-Brasil, Clélia Zuliani Luppis, escreveu uma carta de Roma informando que havia sido criado, na Itália, um cartão-postal a partir de um dos presépios. O tema também fez parte de uma missa celebrada pelo Papa Bento XVI, ou seja, os presépios de Ana Rech “cruzaram” o oceano e chegaram à maior celebração católica do mundo.

   

 

Seguindo com os marcos, em 2009, a representatividade dos presépios era tão grande e significativa, que eles foram motivo de uma coleção de selos nacionais. Os Correios lançaram seis modelos, que levaram essa tradição de Ana Rech para todo o Brasil. O registro foi feito pelo Jornal Gazeta de Caxias na edição de 21 a 27 de novembro de 2009 (reprodução abaixo).

 

  Jornal Gazeta de Caxias,  semana de 21 a 27 de novembro de 2009,  página 2     -       Selos Correios 16/09/2009       https://blog.correios.com.br/filatelia/?page_id=14690

Atualmente, existe em Caxias do Sul a Cidade de Rolhas, que nasceu inspirada nos presépios construídos com esse material e idealizados por Antonio Molin (já falecido). Em 2013, quando ele passou a enfrentar problemas de saúde, a Cidade de Rolhas, composta por 44 obras que somam mais de 46 mil rolhas, foi levada para os Pavilhões da Festa da Uva. Em 2022, porém, a prefeitura comprou uma área de terras em Ana Rech e destinou para a SAMAR e, então, a obra voltou para a localidade. Hoje, a sede da SAMAR funciona em uma casa nesse terreno e ocupa o piso superior. No andar de baixo está a Cidade de Rolhas, que pode ser visitada a partir de agendamento prévio, e, ao lado, está a Vila dos Presépios. Durante o periodo natalino, a comunidade se une para criar dezenas de presépios, o que atrai um grande número de visitantes de toda a região. Além de admirar os presépio, eles também aproveitam a programação natalina promovida anualmente, o que nos alegra, porque, mesmo que o formato tenha mudado o Encanto de Natal e os seus presépios seguem vivos em a Ana Rech.

 

Este conteúdo integra o projeto Patrimônios, lendas e marcos de Caxias do Sul, financiado pela Lei Paulo Gustavo de Caxias do Sul.

Produção, organização e Curadoria: Marivania Sartoretto

Texto: Paula Valduga

Depoimento: Valter Susin

Referêrencias:

DALL‘ALBA, João L.; TOMIELLO, Antônio; RECH, Juarez E.; SUSIN, Valter A.. História do povo de Ana Rech: distrito. Volume II. Caxias do Sul: EDUCS, 1997.

DALL‘ALBA, João Leonir; TOMIELLO, Antônio; RECH, Juarez E.; SUSIN, Valter A.. História do povo de Ana Rech: Volume I – Paráquia. Caxias do Sul: Educs, 1987. 

Começa Julgamento dos presépios de Ana |Rech, Jornal Pioneiro, Caxias do Sul, ano 1994, dias 10 e 11 de dezembro, página 03.

 Presépio de Ana Rech São Motivos de Selo Nacional, Jornal Gazeta de Caxias, Caxias do Sul, ano de 2009, semana de 21 a 27 de novembro, página 2. Ano

Presépios viram cartão postal no Primeiro Mundo, Jornal Pellegrino, Caxias do Sul, ano 1997, semana 18 a 24 de janeiro, página 03.

TONET, Tânia. A terra dos presépios, Jornal Pioneiro, Caxias do Sul, ano 1995, dia 14 de dezembro, página 03.

blog.correios.com.b, data 16/09/2009 .    https://blog.correios.com.br/filatelia/?page_id=14690